ou «porque é que a vida a teu lado é uma permanente aventura»
Ontem, em plena hora de ponta, descia o primeiro lance de escadas em direcção ao metro quando o vejo chegar. No entanto, o cansaço tinha tomado conta de mim por completo e pensei: Não vou correr, vou esperar pelo próximo!
Continuei tranquilamente a descer, e já no segundo lance de escadas, voltei a olhar e lá estava o metro, parado, como se tivesse à minha espera. Aqui dá-se o “volte-face” e pensei: Se eu correr ainda o apanho.
Numa fracção de segundos desatei a correr pelas escadas e pela estação fora, quando estupefacta verifiquei que a multidão que àquela hora pulula na estação gritava e acenava: “Não! Não!”
Sem perceber o que estava a acontecer, pensava: Mas isto está tudo doido ou quê?! Ainda tentei encontrar a explicação no odor do ar da estação, não fosse o caso, de alguém se ter lembrado de a pulverizar com alguma substância alucinogénia, mas a minha preocupação continuava a ser o metro.
Entrei no metro no preciso momento em que a porta se fechava, mas ainda absorvida pelo comportamento anómalo das pessoas que continuavam a gritar: “Não! Não!” E que, nesse preciso momento, também tentavam (desesperadamente) bloquear a porta, e nem me apercebi que as duas carruagens estavam completamente vazias. Quando o metro iniciou a marcha e procurei um lugar para me sentar, é que verifiquei que tinha todas as cadeiras disponíveis. Estranhei, mas como o metro seguia na direcção que eu pretendia, sentei-me e relaxei.
Um espaço de tempo à frente (não consigo precisar quanto) o metro parou, numa zona subterrânea onde só existem trilhos. De repente comecei a pensar que talvez tivesse entrado no metro errado. Esperei mais um pouco para ver o que acontecia e… não acontecia nada. Como me encontrava na segunda carruagem e nem conseguia ver o condutor, a decisão seguinte foi simples: Vou ter de saltar para os trilhos, porque não pretendo passar aqui a noite.
Assim que abri a porta começei a sentir-me uma verdadeira Indiana Jones, com a agravante de não usar roupas e calçado suficientemente confortáveis para descer aquela altura do metro aos trilhos, e saltar de trilho em trilho. Em sérias dificuldades lá vou saltando, literalmente, quando de repente alguém, desesperadamente, gritou: “OH MENINA !” Olhei, e vi o motorista do metro com um colete cheio de faixas reflectoras, que me continuou a interpelar:
- O que estava a fazer dentro do metro?!
- O que faço sempre! Tencionava ir para a estação X! – respondi.
- E não ouviu o que eu disse?!
- E o que foi que o senhor disse?
- Que todos os passageiros deveriam abandonar as carruagens, porque o metro estava fora de serviço.
- Pois! De ter dito isso imediatamente antes de eu ter entrado, porque não ouvi!
- A menina entre no metro que eu vou leva-la à estação, andar aí nos trilhos é perigosíssimo! (principlamente nas horas de ponta, o que na altura nem me passou pela cabeça!) Julgo que por esta altura já devia ter pensado que me pretendia suicidar, e pelo sim, pelo não, para ficar de consciência tranquila o melhor seria deixar-me na estação sã e salva.
Voltei a trepar para o metro (literalmente, nem imaginam a altura!), mas desta vez rumo à direcção certa.
Quando o metro chegou, a estação estava cheia de gente, a olhar para um metro com duas carruagens e uma só passageira em hora de ponta.
Eu, como sempre, empinei o meu nariz arrebitado e sai com o ar de quem: «Sou excêntrica»!
Canela