terça-feira, julho 31, 2007

See you soon!

Como sempre, no último minuto. Até ao último minuto…!
Mantenho a inércia no tempo que voa e aguardo pelo último minuto. Aprendi a esperar! Mas, ainda me deixo impressionar com o alcance do último minuto! Há algum tempo atrás, numa prova de resistência (corrida), no liceu, disse ao professor, por brincadeira, que venceria aquela prova. Ele incrédulo riu muito e acrescentou:
- Estás a esquecer-te dos rapazes?! Todos eles são mais resistentes do que tu!
Serão?! – pensei – não me ponhas á prova! Venci, precisamente, no último minuto, perante o olhar estupefacto do professor. A partir desse dia aprendi que não adianta correr, é preciso saber esperar pelo tempo das grandes decisões – o último minuto.
Parto com tempo a termo. Levo a minha inseparável e insuperável saudade de todos e de tudo. Uma louca ansiedade apoderou-se de mim e sinto medo que o tempo passe depressa. Passará. Mas não sem antes colocar todas as horas nos minutos e esculpir cada segundo. Voltará?! Talvez! Com brilho nos olhos e um sereno sorriso no rosto… on the last minute!
Até lá fiquem bem
See you soon

P.S. - Só podia terminar com o meu adorado N.º nas postagens de Julho!

Canela

segunda-feira, julho 30, 2007

The State of the Art

Das Férias

Paulatinamente vou-me despedindo dos lugares de férias desta pequena Península. Despeço-me do Alentejo e das suas magníficas praias; de Tróia; de Setúbal, dos chocos fritos e da caldeirada de peixe; dos golfinhos do Sado; das belíssimas praias inacessíveis por terra da Arrábida; da beleza de Sintra; das praias, da gastronomia e das gentes de Peniche e da Nazaré; de Aveiro e dos seus ovos-moles; do colorido das casas da Costa Nova; de Estarreja; de Ovar e de alguns amigos; das praias de Esmoriz, do Porto, da Póvoa de Varzim, de Viana do Castelo e de Caminha e despeço-me do meu amado Douro.
Vivo, agora, imersa em intensas recordações de cheiros, de cores e de sons. África aguarda-me e eu vou, volto em Setembro, se voltar!


Canela

Entre o Sonho e a Vigília


Paralelamente sigo dois caminhos
Abstracto na visão de um céu profundo.
Nem um nem outro me serve, nem aquele
Destino que se insinua
Com voz semelhante à minha. O melhor mundo
Está por descobrir. Não seque a lua
Nem o perfil da proa. Vai direito
Ao vago, incerto, misterioso
Bater das velas sinalado de oculto.

Quero-me mais dentro de mim, mais desumano
Em comunhão suprema, surto e alado
Nas aragens nocturnas que desdobram as vagas,
Chamam dorsos de peixe à tona de água
E precipitam asas na esteira de luz.
Da vida nada senão a melhoria
De um paraíso sonhado e procurado
Com ternura, coragem e espírito sereno.

Doçura luminosa de um olhar. Ameno
Brincar de almas verticais em pleno
Sol de alvorada que descerra as pálpebras



Ruy Cinatti in “Vigília”
Imagem de João Castela Cravo ("Albarrada"), retirada do sítio "1000 imagens"

Canela

domingo, julho 29, 2007

No final da vida

a morte é o único bem
que se possui
no paraíso branco

tudo o resto é gratuito


Francisco Duarte Mangas in “paraíso branco pintado de fresco”

Canela

sexta-feira, julho 27, 2007

quinta-feira, julho 26, 2007

Fire vs. Poetry

Poetry is just the evidence of life. If your life is burning well, poetry is just the ash.


Leonard Cohen


Canela

quarta-feira, julho 25, 2007

Sea Me

My river runs to thee.
Blue sea, wilt thou welcome me?
My river awaits reply.
Oh! sea, look graciously.

I´ll fetch thee brooks
from spotted nooks.
Say, sea,
Take me!.


Emily Dickinson in “My River”
Imagem de João Pejapes ("Blue eye"), retirada do sítio "Olhares"

Canela

Paixões

O intenso odor a mar que entrou, durante a madrugada, pela janela aberta do quarto. Este cheiro transporta-me para um estado letárgico entre o sono e a vigília e imagino que o mar adquiriu outra dimensão. O mar ocupa, agora, o espaço da imagem e do espelho e na sua interface sinto-me imensamente protegida.
Ao acordar sei que há nevoeiro no mar, ainda que o tempo não seja de tréguas.


Canela

terça-feira, julho 24, 2007

Dos dias de dor e de saudade

Remendo o coração, como a andorinha
Remenda o ninho onde foi feliz.
Artes que o instinto sabe ou adivinha…
Mas fico a olhar depois a cicatriz.

Miguel Torga in “Ponta Seca”

Canela

sexta-feira, julho 20, 2007

Até breve

Ontem levas-te um pouco mais de mim, fico a aguardar meu Deus, até que venhas buscar o meu último bocado. É com o coração desfeito que lhe digo até breve Tio.
E hoje, no limiar da minha força, despedi-me do que restou do meu amado avô, embrulhando grande parte da minha alma no mesmo lençol de linho branco.


Canela

quinta-feira, julho 19, 2007

When the hard part is over

Depois da minha morte não viverás mais, é certo. Eu sou o único motivo que te faz viver

Baudelaire

Canela

quarta-feira, julho 18, 2007

Mulheres vs. Cinema



Canela

Retrato de Mulher

São apanágios da época
estas cabeças
para suave alegria
voltadas
nos postigos
As pernas de donzela
trazem sempre a chuva
e nas últimas corridas do ano,
opróbrio
Nestas latitudes,
aluga-se um rosto
por amor à arte.


Gil de Carvalho in “de Aboiz”


Canela

Mulheres vs. Arte




Canela

Com ausência de letras

este poema foi escrito ontem hoje não
vou escrever (na face nego sorrisos como
quem fecha janelas) hoje só preciso

de mim (este poema é grátis: não está
incluído no preço do livro). hoje não
tocarei o corpo da Corona Four uma


azerty americana já com uma certa
idade (ainda é das que escreve poesia
a preto ranço) faz um mês que se
perdeu a tecla da letra « » só por isso


não tenho escrito sobre o rilho dos
teus olhos. o meu copo está vazio (hoje
não é poedia) depois eu mando alguém
uscar as minhas palavras


João Luís Barreto Guimarães in «de ‘ Este Lado para Cima’, 3»


Canela

domingo, julho 15, 2007

Mais do mesmo (ficção)

Canela

Realidade

Ao longo dos dias sinto que o tempo corre como a areia que me escorre pelos dedos, e na vã tentativa de não o deixar fugir passo os meus dias a correr de um lado para o outro, ora a favor do tempo, ora contra ele. E, quando o tempo exausto pára um pouco, eu tento, somente, relaxar. Nestas horas pego nos telefones e estiro o corpo num qualquer lugar confortável, aos olhos ofereço a beleza de um livro ou a imagem de um quadro e ali ficamos, até adormecer, ou até que os olhos fitem a parede branca e comecem a projectar as outras imagens criadas. Esta é uma das razões que me leva a não falar de livros, quando não lhes posso transcrever parágrafos, não consigo separar o que li do que ficcionei.
Num dia destes o telefone tocou, e do outro lado percebi que estava uma voz masculina titubeante e em sérias dificuldades em coordenar a ventilação e as vibrações das cordas bucais. Disse quem era e falou de muitas outras coisas, quando eu já tinha os opérculos dos ouvidos fechados e tentava novamente voltar à parede branca. Mas, sem me querer dar sossego a alma do outro lado da linha começou a interpelar-me:
- Sabe onde fica esse sítio?
- Sei – respondi.
- Então vá já lá e nós oferecemos-lhe um aparelho para medir a tensão arterial! - E depois acrescentou – mas tem de levar o seu marido!
Foi, neste preciso momento, que as palavras me feriram como estilhaços de vidro e já quase a saltar do sofá perguntei:
- COMO????!!!
A voz titubeante baixou-se um pouco, mas continuou a dizer:
- A empresa obriga-a a levar o seu marido!
Pela minha cabeça passavam expressões inenarráveis neste “post”, até vários cqf passaram, mas um sentimento de pena por aquela voz fraquinha levou-me a dizer:
- Ouça! Seria um custo muito elevado a pagar por um simples esfigmomanômetro! Percebe?! – Depois ainda lhe consegui desejar – Tenha uma boa tarde! E desliguei o telefone.
Por muito esforço que fizesse não conseguia voltar para a parede branca e não conseguia abandonar a memória daquele diálogo, só pensava em processar aquela empresa. Até que, de repente, comecei a pensar que, podia ter ocorrido um mal entendido, e como eu sou uma deslumbrada, poderia não ter prestado a necessária atenção aquele senhor, que na realidade me proponha uma mera campanha de troca!


Canela

Ficção

Sou uma personagem
de ficção científica
escrevo para me casar


Adília Lopes in “Op-art”


Canela

sábado, julho 14, 2007

A caminhar com passos largos

As férias só começam oficialmente em Agosto, mas a lufada de ar fresco, destes dias, dilatou-me as narinas e insuflou-me ar novo nos alvéolos. Como quem oferece um último balão de oxigénio a um moribundo, inalo cada molécula avidamente e tento encontrar as causas que me motivam a continuar, procuro na vida outros motivos.
Quase ao lado da secretária continua a repousar a vacina contra a febre-amarela e a profilaxia anti-malária, o que indica que, ainda não perdi a esperança de voltar a África nestas férias. Na agência de viagens, á aproximadamente dois meses, que me andam a avisar para ir abandonando as expectativas, e depois de pedir mais de mil explicações, descobri que, assim que lá entro desaparecem praticamente todos, excepto uma funcionária. A verdade é que, nestes dois últimos meses de permanentes perguntas, aprendi mais sobre quotas e operadores turísticos do que em toda a minha vida. Só, ainda, não me convenceram a marcar as férias com mais tempo de antecedência, porque sempre que as reservo no último minuto vou para onde quero.
Para trás ficam também as viagens sonhadas (mas só por este ano) ao Nepal e Tibete, ao Perú (Machu Picchu, Cuzco e Lima) e ilha da Páscoa.
Quanto a África posso não ir à desejada, mas é bem provável que vá à possível!


Canela

quarta-feira, julho 11, 2007

Concisa Estória da Arte

O mais
importante na vida
É ser-se criador – criar beleza.

Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.

Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir uma voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.

Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.



António Botto in “Curiosidades Estéticas”
Imagem de João Mota da Costa ("Corpus 1"), retirada do sítio "1000 imagens"

Canela

Em Primeira Página

evitar o contrabando da felicidade
uma das medidas mais duras
decretadas pelo governo parisiense



Francisco Duarte Mangas in “paraíso branco pintado de fresco”


Canela

terça-feira, julho 10, 2007

Feliz Aniversário Rosinha

Este é mais um dos aniversários de hoje, e tu és mais uma das flores deste "blog"! Uma flor linda, rebuscada, de um encarnado intenso, mas com pétalas de cetim e um estigma açucarado e discretamente perfumado!
Uma flor grávida de um P. (espero não estar a cometer nenhuma inconfidência!) e já com um X. (o meu sobrinho enciclopédico em dinossauros!).
Uma Rosa em que os espinhos se transformaram em palavras de ternura, em cuidados com todos os que te rodeiam (incluindo o chato do meu amigo N.). Uma Rosa sempre disposta a esquecer-se de si para acudir os que te pedem colo.
Uma flor que coloriu o mundo de rosa claro, povoou de azul-bebé, desenhou um arco-íris e ao atar-lhe um balão o ensinou a voar.
Que cada pétala te atinja com ondas de eterna felicidade.


Canela

Feliz Aniversário C.

Não me esqueci! Como poderia esquecer-me de ti?! Nem quando o mundo parece desabar, nem quando o Sol não sorri, até mesmo quando dou por mim (quase) a implorar tréguas! Como poderia esquecer-me?! Como se esquecem os nossos passeios “dos bêbados”?! Como se esquecem os três meses de verão passados, ininterruptamente, na praia?! Os dias de trovoada e nós (inconsequentes!) enfiadas dentro do mar e a julgar que mau tempo é só um estado de espírito, como se esquece?! E as toalhas de praia que, contra todas as leis da gravidade iam subindo? E os jogos de andebol que começavam sempre com o “grito de guerra” – HUNGA! E as maçãs verdes que mordia-mos, como se esquece?!
Como não lembrar a nossa incursão pela culinária?! Lembras-te?! A nossa paixão por peixe fez-nos começar, pelo que parecia mais simples, grelhar carapaus, o resultado foi desastroso e terminamos aos vómitos (culpa do insuportável cheiro a peixe!) e com os carapaus todos desfeitos a voarem pela janela! Salvou-nos o arroz de alho da E., absolutamente memorável, e que, ainda hoje, faço aquando das minhas curtíssimas passagens pela cozinha!
Tenho infinitas saudades das nossas intermináveis conversas, dos temas que debatíamos até à exaustão, dos textos que escrevias. Tenho infinitas saudades de te ter mais perto. Tenho inexprimíveis saudades de ti.
Que o dia te abrace na enigmática forma de transmissão de amor.


Canela

segunda-feira, julho 09, 2007

«To You»


LET us twain walk aside from the rest;
Now we are together privately, do you discard ceremony,
Come! vouchsafe to me what has yet been vouchsafed to none —Tell me the whole story,
Tell me what you would not tell your brother, wife, husband, or physician.



Walt Whitman in "To You"
Imagem de JET ("The Meeting-Epilogue"), retirada do sítio "Olhares"


Canela

domingo, julho 08, 2007

The State of the Art

Dos Dias

Dos que foram,
Dos que são.
Nada.


Canela

quinta-feira, julho 05, 2007

Brainstorming

Na moldável areia
contamos o tempo grão-a-grão,
solo infértil
onde se desenha vida.


Fotografia de Nelson Afonso ("felicidade"), retirada do sítio "1000 imagens"

Canela