quarta-feira, novembro 29, 2006

Muitos Parabéns Tufo's

Tufo’s muitos, muitos parabéns!! Sei que deves estar cheio de saudades minhas!!! Não, não sou convencida e também não é falta de modéstia, é uma mera constatação de factos!!! A tua produtividade ronda, nesta altura do campeonato e comparativamente à que tínhamos quando formávamos uma equipa, uns míseros 10%. Isto, já para não falar nos jogos de ténis que ganhávamos sempre ao dueto L e NC. Certo??!!
Só para te relembrar Tufo, com as bactérias tu fazes um esfregaço, esfreganço, eu deixo à tua consideração!!!
Tenho muitas saudades tuas!!! e olhando, assim para trás, à distância de um tempo, continuo a ser da mesma opinião – éramos uma equipa imbatível. Feliz Aniversário!!
Canela

terça-feira, novembro 28, 2006

Memórias 1 – Erros de Fonética

Esta história passou-se nos primeiros anos de faculdade e por certo, todos nós ainda a recordamos com sorrisos, risos ou gargalhadas. Aliás, continua a ser uma das histórias inevitáveis sempre que falamos do F.
F. é uma daquelas pessoas inesquecíveis, que marca de forma profunda, todos aqueles que cruzam o seu caminho.
Como era habitual, por esse tempo, à hora de almoço, tornava-se inevitável o encontro naquele café tão perversamente ligado à faculdade, que, muitas vezes, se chegava a confundir com esta, eu diria até, que por vezes, a maior aprendizagem, ocorria ali, entre cafés, jogos de cartas e tertúlias sobre vários assuntos.
Naquele dia, à semelhança de outros, o café estava cheio e como tal o atendimento era mais lento e o bulício de fundo, fazia com que, o limiar aceitável do som tivesse de ser ultrapassado.
- Oi!!... Oi!!… Por favor moço!!! (F. no seu melhor sotaque brasileiro).
- OI, MOÇO!!!
Como continuava a não ter “feedback” do empregado, F. então decide GRITAR.
- POR FAVOR MOÇO ME DÁ UMA QUECA!!!!
Como por magia fez-se um silêncio absoluto, a estupefacção foi geral, até a nossa!!! E, numa fracção de segundos, o empregado finalmente olha para F., com uma expressão, concomitantemente, de espanto e susto.
Por esta altura, já nós, sem nos apercebermos do silêncio, gritávamos, quase em uníssono.
- Um QUEQUE!!!
- É um QUEQUE!!!
- Por favor um QUEQUE !!!
- …
O empregado com ar mais aliviado responde…
- Eu bem me queria parecer, que não era bem isso, que o senhor queria!!!!
F. continuava completamente estupefacto sem se aperceber, do que estava a acontecer.
Depois, num ambiente de gargalhada geral, alguém explicou ao F. que existem determinadas palavras que não devem ser vociferadas aos sete ventos e sobretudo direccionadas a quem, declaradamente, não se mostra receptivo.

Talvez pela mesma razão, num passado mais próximo, ao ser indagado acerca do almoço que a filha lhe tinha preparado o meu pai respondeu:
- Mo… qualquer coisa, que agora já não me lembro!!!!
- Como Mo…, qualquer coisa!!! Que agora não te lembras!!... Se, ainda agora, acabas-te de almoçar??? – digo eu.
- Conhecendo-te como te conheço…!!! Julgo que será melhor não completar a palavra, pelo menos, enquanto não tiver a certeza da sua existência!!!
Espero que está dúvida não o tenha impedido de desfrutar do sabor exótico do coco misturado com óleo de Denden e camarão.
Ao F. e para que fique registado, quero agradecer profundamente todos os anos de convivência, todas as minhas festas de aniversário, que eram verdadeiras odes à amizade e sobretudo a sua alegria contagiante. A amizade, essa, da minha parte, há-de ser eterna.
Às “cozinheiras” (L., C., Piro, M e M e a A) quero agradecer a boa disposição, os excelentes almoços, sobretudos os constantes arroz de marisco, o bom senso, ao despacharem-me da cozinha, e especialmente à Piro, quero agradecer aquele arroz “soltinho”, que ainda hoje deve estar, para aí, nalgum centro de compostagem a servir de argamassa.
Às mães e às avós, quero agradecer a permanente disponibilidade telefónica, para as indicações culinárias, sobretudo, a de: “…não!!! no arroz de marisco não se coloca cenoura!!!...”, “o tomate coloca-se logo no inicio!!!...”, “…não se esqueçam de descascar as cebolas!!!...”, “…, sim podem colocar vinho branco!!!”, esta última situação, deixava sempre a Piro desolada, por ver o seu precioso néctar tão mal aproveitado.
À “tiazona” quero pedir desculpa pelo estado lastimável com que deixávamos a cozinha, e principalmente, os discos do fogão.
A todos (incluindo agora o JP e o N.) quero agradecer as velas do cemitério, com as quais, faziam questão de me cantar os parabéns, os presentes sempre tão interessantes, originais e proveitosos e um presente em especial – a minha querida e saudosa Aderita plumata, naquele ano, em que, eu cismei, porque cismei, que queria um ganso. Não foi um ganso, mas andou perto, foi uma pata linda e muito mimada que só me abandonou no término da vida.
Resta-me finalmente dizer-vos que vos ADORO e que prezo muito, muito mesmo, a vossa amizade.
Canela

Wicked Game


What a wicked game you play
To make me feel this way
What a wicked thing to do
To let me dream of you
What a wicked thing to say
You never felt this way


Chris Isaak


segunda-feira, novembro 27, 2006

Entra em morte cerebral...

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece.
...
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco, e os pontos nos is em detrimento dum redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, um sorriso dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não troca o certo pelo incerto para ir atrás dum sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir aos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias a queixar-se da má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece, ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior, do que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estado esplêndido e de felicidade.
Pablo Neruda
...a ventilação, nestes casos tem de ser assistida.

domingo, novembro 26, 2006

Dilema

Neste momento, a minha vontade de pintar é directamente proporcional à quantidade de trabalho, o que me cria um dilema: deixar para trás algum trabalho e dedicar-me à pintura, ou esquecer a pintura e continuar amarada ao trabalho?
A segunda hipótese acaba de vencer, porque a pintura não se harmoniza com fracções de tempo e com sentimentos de culpa.
Resta-me ficar com esta aguarela musical, enquanto não volto para a tinta e os pincéis.
Canela

sábado, novembro 25, 2006

Heartbreaker

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

Rómulo de Carvalho/António Gedeão - Centenário do Nascimento

Lágrima de preta


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo) e cloreto de sódio.


António Gedeão

Dicotomias

Em determinadas situações apenas temos duas opções, ou adoramos ou detestamos.
Relativamente aos chocolates “Mon Chéri”, eu adoro.
Noutras situações existe, apenas, um limite muito ténue entre este binómio.


Canela

sexta-feira, novembro 24, 2006

Porto

Gosto de olhar para ti da margem Sul.
Adoro ver o casario ocre empoleirado a espreitar o rio.
De ver a torre que subiu mais alto, ao mira(Douro).
As ruas de granito e calcário que descaem dissimuladamente.
Os barcos que sem pudor se imobilizaram sobre este amor único entre a foz e o rio.
E o mar, que em dias de calmaria refresca esta paixão e em dias de tempestade a arrebata.
Adoro a paleta de cores que embeleza os dias de amor-perfeito.
Os tons de cinza taciturnos dos dias de mau fado.

E a neblina com que me afagas em tempo de tréguas.

Canela

quinta-feira, novembro 23, 2006

A Good Answer

...
Him: This isn’t an English word!!! What is the meaning of this word??
XY: I like to innovate !!!

I couldn't agree more deeply with you, we should innovate always!!!!

Cinnanom

quarta-feira, novembro 22, 2006

O que todos os Homens deviam conhecer...





E foi então que apareceu a raposa:
- Olá bom dia! - disse a raposa.
- Olá bom dia, - respondeu delicadamente o princepezinho, que se voltou, mas não viu ninguém.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? perguntou o princepezinho.
És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princepezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o princepezinho.Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o princepezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm espingardas e passam o tempo a caçar. É uma grande maçada! Criam galinhas também. Aliás, na minha opinião é a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o princepezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um rapazinho inteiramente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Não passo, a teus olhos, de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o princepezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se cada coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o princepezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu caço as galinhas e os homens caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas as outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso às vezes aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra.
Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o princepezinho:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Eu bem gostava - disse o princepezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- Só conhecemos bem as coisas que cativamos - disse a raposa.
Os homens não têm tempo de conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não existem vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o princepezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa.
Primeiro sentas-te um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu olharei para ti pelo canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
No dia seguinte o princepezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... São precisos rituais.
- Que é um ritual? perguntou o princepezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um ritual. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o princepezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o princepezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o princepezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não ganhas-te nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te darei um presente de despedida: conto-te um segredo.
O princepezinho foi rever as rosas:
- Vocês não são nada parecidas com a minha rosa! Vós não sois ainda nada. Ninguém vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela agora é única no mundo. E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Claro que, para um transeunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente igual a vocês. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que coloquei sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (excepto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu vi queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a tornou tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer. Ficas responsável para sempre por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
Antoine De Saint- Exupery in "O Princepezinho"

terça-feira, novembro 21, 2006

Aos olhares inevitáveis...

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Vinicius de Moraes

Será que vale a pena...

A resposta pode vir em forma de poema...
...
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu.
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

Mal sabe o poeta, a importância que tem tido a poesia, em momentos cruciais da vida.
Talvez este seja mais um...

Canela

sexta-feira, novembro 17, 2006

Deixa-me dizer-te...

Deixas-me…enroscar no teu regaço e sentir a protecção do teu abraço?
Deixas-me sentir o bater do teu coração para compassar o meu?
Deixas-me entrar na profunda ternura do teu olhar e proteges-me os sonhos?

Deixa-me dizer-te que te adoro Mãe.

Dedicado à minha Mãe e a minha Mãe Laura.
Canela

quinta-feira, novembro 16, 2006

Constelação Negativa...

Hoje alguém me disse que, parecia que todo o universo tinha conspirado para formar uma constelação negativa.
Não sei se o universo conspira ou não, o que sei é que, mesmo debaixo de constelações negativas, existe alguém que brilha mais longe, que pode iluminar caminhos.
O que quero dizer é que, mesmo após ter sido arrastado para um pântano sórdido, cobarde e pestilento, mesmo após lhe tentarem sugar a própria alma, por processos pouco ortodoxos, mesmo após o restringirem a um quarto sufocante, mesmo após o aniquilamento psíquico, alguém se ergueu com os olhos fixos no futuro, por saber que, esse é o seu único caminho, levantou o nariz, respirou fundo, sacudiu a lama que o cobria e com luz própria segui rumo a outra constelação.
Num futuro próximo talvez existam só constelações positivas.

Eu fico a guardar o céu.

Cinnanom

sexta-feira, novembro 10, 2006

Uma Paixão pode ser...

Quente, como lava a escorrer para o mar
Fria, quando depressa submerge e se mantêm a flutuar
Ar, quando consegue voar, ganha asas...
Sujeita a mutação.
Canela

quarta-feira, novembro 08, 2006

Hoje sinto-me assim...

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta: Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos... Ide!
Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio in Cântico Negro