Esta história passou-se nos primeiros anos de faculdade e por certo, todos nós ainda a recordamos com sorrisos, risos ou gargalhadas. Aliás, continua a ser uma das histórias inevitáveis sempre que falamos do F.
F. é uma daquelas pessoas inesquecíveis, que marca de forma profunda, todos aqueles que cruzam o seu caminho.
Como era habitual, por esse tempo, à hora de almoço, tornava-se inevitável o encontro naquele café tão perversamente ligado à faculdade, que, muitas vezes, se chegava a confundir com esta, eu diria até, que por vezes, a maior aprendizagem, ocorria ali, entre cafés, jogos de cartas e tertúlias sobre vários assuntos.
Naquele dia, à semelhança de outros, o café estava cheio e como tal o atendimento era mais lento e o bulício de fundo, fazia com que, o limiar aceitável do som tivesse de ser ultrapassado.
- Oi!!... Oi!!… Por favor moço!!! (F. no seu melhor sotaque brasileiro).
- OI, MOÇO!!!
Como continuava a não ter “feedback” do empregado, F. então decide GRITAR.
- POR FAVOR MOÇO ME DÁ UMA QUECA!!!!
Como por magia fez-se um silêncio absoluto, a estupefacção foi geral, até a nossa!!! E, numa fracção de segundos, o empregado finalmente olha para F., com uma expressão, concomitantemente, de espanto e susto.
Por esta altura, já nós, sem nos apercebermos do silêncio, gritávamos, quase em uníssono.
- Um QUEQUE!!!
- É um QUEQUE!!!
- Por favor um QUEQUE !!!
- …
O empregado com ar mais aliviado responde…
- Eu bem me queria parecer, que não era bem isso, que o senhor queria!!!!
F. continuava completamente estupefacto sem se aperceber, do que estava a acontecer.
Depois, num ambiente de gargalhada geral, alguém explicou ao F. que existem determinadas palavras que não devem ser vociferadas aos sete ventos e sobretudo direccionadas a quem, declaradamente, não se mostra receptivo.
Talvez pela mesma razão, num passado mais próximo, ao ser indagado acerca do almoço que a filha lhe tinha preparado o meu pai respondeu:
- Mo… qualquer coisa, que agora já não me lembro!!!!
- Como Mo…, qualquer coisa!!! Que agora não te lembras!!... Se, ainda agora, acabas-te de almoçar??? – digo eu.
- Conhecendo-te como te conheço…!!! Julgo que será melhor não completar a palavra, pelo menos, enquanto não tiver a certeza da sua existência!!!
Espero que está dúvida não o tenha impedido de desfrutar do sabor exótico do coco misturado com óleo de Denden e camarão.
Ao F. e para que fique registado, quero agradecer profundamente todos os anos de convivência, todas as minhas festas de aniversário, que eram verdadeiras odes à amizade e sobretudo a sua alegria contagiante. A amizade, essa, da minha parte, há-de ser eterna.
Às “cozinheiras” (L., C., Piro, M e M e a A) quero agradecer a boa disposição, os excelentes almoços, sobretudos os constantes arroz de marisco, o bom senso, ao despacharem-me da cozinha, e especialmente à Piro, quero agradecer aquele arroz “soltinho”, que ainda hoje deve estar, para aí, nalgum centro de compostagem a servir de argamassa.
Às mães e às avós, quero agradecer a permanente disponibilidade telefónica, para as indicações culinárias, sobretudo, a de: “…não!!! no arroz de marisco não se coloca cenoura!!!...”, “o tomate coloca-se logo no inicio!!!...”, “…não se esqueçam de descascar as cebolas!!!...”, “…, sim podem colocar vinho branco!!!”, esta última situação, deixava sempre a Piro desolada, por ver o seu precioso néctar tão mal aproveitado.
À “tiazona” quero pedir desculpa pelo estado lastimável com que deixávamos a cozinha, e principalmente, os discos do fogão.
A todos (incluindo agora o JP e o N.) quero agradecer as velas do cemitério, com as quais, faziam questão de me cantar os parabéns, os presentes sempre tão interessantes, originais e proveitosos e um presente em especial – a minha querida e saudosa Aderita plumata, naquele ano, em que, eu cismei, porque cismei, que queria um ganso. Não foi um ganso, mas andou perto, foi uma pata linda e muito mimada que só me abandonou no término da vida.
Resta-me finalmente dizer-vos que vos ADORO e que prezo muito, muito mesmo, a vossa amizade.
Canela