Não me perguntes, porque nada sei
da vida,
nem do amor,
nem de Deus,
nem da morte.
Vivo,
amo,
acredito sem querer,
e morro, antecipadamente
ressuscitado.
O resto são palavras
que decorei
de tanto as ouvir.
E a palavra
é o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
sem nada perguntar,
vê, sem tempo, o que vês
acontecer.
E na minha mudez
aprende a adivinhar
o que de mim não possas entender.
*Miguel Torga, in "diário XVI"
Não esperes que te condene, porque nunca o farei.
Canela
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