terça-feira, junho 12, 2007

Em análise

Temos em comum o gosto pelas grandes caminhadas, por vezes caminhamos durante horas a fio, lado a lado (sempre), sem dizermos uma única palavra, recorrendo apenas ao ritmo sincronizado da nossa marcha para nos sentirmos seguros. Este tempo de evasão tem sobre nós um efeito terapêutico, lava-nos a alma, reconforta-nos os músculos e liberta-nos do corpo.
De tempos a tempos reaparecemos, olhamo-nos de soslaio e com apenas um sorriso dizemos – presente!
Mas, da última vez foi diferente, eu destilava veneno e correndo sérios riscos de comprometer a minha função hepática dei início a um longo monologo. Não sei se me ouves – perguntei assim mesmo, mas como sempre, vi-te a vaguear entre os dois mundos. Não faz mal – pensei, ouvir as palavras ajuda-me a atribuir-lhes uma ordem, obrigo-as a entrarem num sistema organizacional de criação de ideias! De vez em quando, lá sai uma que me distrai, que me faz rir! Outras vezes, encontro outra com um léxico diferente, como se carregasse um código linguístico novo! Quero avisar-te que acabei de encontrar um neologismo, mas tu já entendes-te, reconheço-o no teu riso malandro. Será que me ouve? – penso de novo. É aqui que decido trancar o texto, termina-lo abruptamente sem deixar que a última ideia entre para o finalizar. E, quando dou por mim a pensar – ok! Não me ouve! Tu paras, e com um incomparável poder de síntese, resumes o meu monologo de duas horas em:
- Tem uma vastíssima experiência em divórcios, sem nunca ter passado por um único casamento!
Eu olho para o contador de tempo e sinto que esgotei todas as palavras.


Canela

2 comentários:

Anónimo disse...

É bom termos quem nos acompanhe nas nossas muitas caminhadas apenas pelo prazer de estar...
Piro

Anónimo disse...

Nesta tua caminhada, que não está a ser fácil, podes e deves contar comigo!
Um beijinho cheio de amor, amizade e paz!
Fica bem