O poema é o desenho desta letra
inclinada pelo rumor do vento
quando lhe peço abrigo
e vejo nele o espelho do meu corpo
repousando nos teus braços de ontem.
A tinta ainda não acabou de secar.
O cheiro fresco da página vira-se para a página seguinte
e a minha voz ouve-se melhor ao vento
quando conspiramos no silêncio
a próxima letra
e a exactidão do seu desenho.
Agora há mimosas nas árvores
e lá em baixo o rio já não é como era
nem saberia sê-lo.
Esqueci como se bebe a água pela mão
ou como se bebe a mão
do rio.
Eu existia nessa transparência
na flor espiritual e líquida
da tinta
que retoca no papel a sua vida.
Esta letra é o meu nome soletrado por ti,
o meu nome que ainda não está seco
e te olha nas acácias florindo em amarelo
no rigor do inverno.
Qualquer palavra tua me desenha
e assim começa qualquer coisa
que me estava destinada desde sempre.
inclinada pelo rumor do vento
quando lhe peço abrigo
e vejo nele o espelho do meu corpo
repousando nos teus braços de ontem.
A tinta ainda não acabou de secar.
O cheiro fresco da página vira-se para a página seguinte
e a minha voz ouve-se melhor ao vento
quando conspiramos no silêncio
a próxima letra
e a exactidão do seu desenho.
Agora há mimosas nas árvores
e lá em baixo o rio já não é como era
nem saberia sê-lo.
Esqueci como se bebe a água pela mão
ou como se bebe a mão
do rio.
Eu existia nessa transparência
na flor espiritual e líquida
da tinta
que retoca no papel a sua vida.
Esta letra é o meu nome soletrado por ti,
o meu nome que ainda não está seco
e te olha nas acácias florindo em amarelo
no rigor do inverno.
Qualquer palavra tua me desenha
e assim começa qualquer coisa
que me estava destinada desde sempre.
Rosa Alice Branco in “Flor de Tinta”
Imagem: Pintura de Enrique de Santiago
Canela
Imagem: Pintura de Enrique de Santiago
Canela
4 comentários:
"...Esqueci como se bebe a água pela mão..."
Sabes que descobri que os meus catraios não sabiam que se pode beber a água pela mão? No verão passamos por uma nascente de água na serra e eles acharam que tinhamos de ir ao carro buscar uma garrafa para encher d'água. Quando eu disse que não era preciso, que podiamos beber pela mão, eles ficaram espantados a olhar para mim!
É em momentos como este que me apercebo do quão afastados vivemos da natureza.
Não existem fontes na Lapónia?!
Sabe tão bem beber água pela mão!
sabe tão bem beber água com a boca aberta directamente para a fonte!
Sabe tão bem no verão ficar toda molhada ao beber água directamente da fonte!
Mas, julgo que aprendi a beber pela mão pelas mãos dos meus pais.
É tão bom!
Provavelmente há nascentes de água na Lapónia (nas montanhas do norte da Suécia). Infelizmente nunca consegui convencer (tu sabes quem) a fazer caminhadas pelas montanhas, e nos campos de golf não há nascentes de água...
Tenta ver a situação pelo lado positivo – agora já não precisas de convencer ninguém!
Quando, hoje, me deram duzentos E. para a mão, fiquei incompreensivelmente calma e pensei de imediato – afinal só me estraga o descanso que preciso e algum trabalho que tinha programado para o fim-de-semana, mas todo o trabalho que tinha programado para durante a semana está salvaguardado e sai a sorrir.
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