terça-feira, outubro 30, 2007

Timoneira do meu Navio


Quer cometer suicídio?
Não sei responder a esta pergunta que me foi colocada num passado recente. Sei que hoje será o fim e o princípio do acto que foi catalogado como tal.
Não temo nada. Não sei por onde vou, só sei que não vou por aí. Gosto de seguir os meus próprios passos.
Acto suicida?!
Loucura?!
Chamem-lhe o que quiserem, Eu chamo-lhe vida. Sigo em frente, se for necessário criarei um “bypass”, mas não volto atrás, por isso, agora, sigo sozinha. Já nada me detém. Sou timoneira do meu navio. Rumo a um sonho. No negro da noite rumo à luz que ofusca e amedronta.
Obrigada por todo o apoio, vou precisar muito de todos vocês, mas tenho de seguir sozinha. Sou coerente (dentro da atitude suicida), responsável (no jogo da roleta russa) e louca (por pôr em causa o impensável). Sempre me senti absolutamente identificada com o poema do José Régio, com o qual dei início ao Blog, hoje mais do que nunca.
Eu amo o longe e a miragem. Sempre amei.



Canela

segunda-feira, outubro 29, 2007

O que os amigos nos dizem:

Agora foi o JM

Áries: O Diabo de Desafio Enérgico. Aventureira e espontânea. Confiante e entusiástica. Divertida. Ama um desafio. EXTREMAMENTE impaciente. Às vezes egoísta. Fusível curto (enfurece facilmente). Inteligente. Apaixonada. Gosta de sair. Perde o interesse depressa. Facilmente entediada. Corajosa. Tende a ser física e atlética.

Como se todo isto não bastasse pediu-me para responder, e já agora como eu “amo um desafio” e tenho “pavio curto”. Aqui tens tu a resposta:

VIRGEM: O Perfeccionista. Dominante nas relações. Conservador. Quer Sempre ter a última palavra. Argumentativo. Preocupado. Inteligente. Antipatiza com barulho e caos. Ansioso. Trabalhador. Bonito. Difícil de agradar. Severo. Prático e muito exigente. Frequentemente tímido e pessimista.


Em ti reconheço o perfeccionismo; a inteligência; o carácter prático, trabalhador e altamente exigente, e por último sei que estás à espera que te diga que és… bonito! És Lindo!


Canela

domingo, outubro 28, 2007

Amanhecerei assim…



Canela

A flor que jamais poderás colher é tua


Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página
E aproveito o facto de teres chegado agora
Para te explicar como vejo o crescer de uma magnólia.
A magnólia cresce na terra que pisas – podes pensar
Que te digo alguma coisa não necessária, mas podia ter-te dito,
[acredita,
Que a magnólia te cresce como um livro entre as mãos. Ou melhor,
Que a magnólia – e essa é a verdade – cresce sempre
Apesar de nós.
Esta raiz para a palavra que ela lançou no poema
Pode bem significar que no ramo que ficar desse lado
A flor que se abrir é já um pouco de ti. E a flor que te estendo,
Mesmo que a recuses
Nunca a poderei conhecer, nem jamais, por muito que a ame,
A colherei.

A magnólia estende contra a minha escrita a tua sombra
E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão.



Daniel Faria in “Do ciclo das intempéries”


Canela

Proporcionalidade Directa

Se existisse uma proporcionalidade directa entre a produtividade no Blog, e o trabalho que tenho para fazer este fim-de-semana, outro galo cantaria, assim só canta o da minha consciência pesada.


Canela

Palavras Proibidas

Para ti Mamã: Arroz de cabidela.
Para ti Paizinho: Com um excelente vinho tinto a acompanhar.
Para ti Cérebro meu: e como hoje é Domingo vai-me “saber pela vida” dormir a sesta.

Agora eu pergunto-te: e todo o trabalho que ainda temos para fazer?! Nem precisas de responder, porque eu já sei que deixas sempre para amanhã, na esperança que amanhã nunca seja tarde demais!


Canela

sábado, outubro 27, 2007

Razões para Sorrir

Se há “Blog” que me deixa sempre a sorrir ou a rir é o “Blog” com Norte. A única razão que me mantém intrigada é: “porquê que menina não entra”? De facto, só lhe falta o colorido da escrita feminina para ser perfeito.


Canela

Hoje na Farmácia…

São só informações úteis:

Os antibióticos não são úteis no tratamento da gripe porque só actuam sobre bactérias e o agente patogénico da gripe é um vírus

O recurso de forma indiscriminada aos antimicrobiamos (antibacterianos, antifúngicos, antivíricos, etc.), está a contribuir para o aparecimento de estirpes resistentes. Não tome medicamentos sem consultar o seu médico, e, sobretudo, cumpra rigorosamente o tratamento que lhe foi prescrito.

A gripe é diferente de uma constipação

Não há nada como a sabedoria popular no caso das constipações. Como diz o povo seguimos a regra dos A, A, A (três "A"s): “Avinha-te, abifa-te e abafa-te”. Não sei se é rigorosamente por esta ordem, provavelmente não, mas o que interessa é que estão lá os três "A"s. O meu conselho, e curiosamente o único que também cumpro, é o “abafa-te”. Os vírus são sensíveis a temperaturas superiores a 37ºC. Assim sendo, podemos aquecer o quarto e ficarmos bem quentinhos na cama até começarmos a transpirar (um bom “suadouro” como diz o povo). Depois é só tomar um banho quentinho, mudar de pijama e dormir um soninho tranquilo até ao dia seguinte, e acordar de perfeita saúde para um novo dia.


Canela

Prova do Aquecimento Global (no quintal)

Lembram-se do mamoeiro?
Pois é! Está enorme, e em pleno mês de Outubro tem imensas flores!




Canela

quinta-feira, outubro 25, 2007

Um novo Blog

Um Blog com Norte na barra do lado direito.


Canela

Tons de Branco


I have eaten
the plums
that were in
the icebox

and which
you were probably
saving
for breakfast.

Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold.




William Carlos Williams in “This is just to say”
Imagem de Maria Isabel Batista (“As rubras papoilas”), retirada do sítio “Olhares”


Canela

terça-feira, outubro 23, 2007

The last questions and answers


Ela – Se percebesses de números
quantas pedrinhas, dirias,
tenho comigo
representando os dias para te amar?

Ele – Uma eternidade, dizes tu
percebendo de metafísica.

Ela – E como explicas então
que as águas me sustentem
e me mantenham à superfície?

Ele – É que as pedras do amor são preciosas
e a eternidade é o presente que não existe.
Não te faças ao reino das águas, princesa
sê antes a imagem do céu
timoneira da embarcação por onde desces o rio.

Ela – Fosse teu cavalo marinho
e verias quantos corpos jazem
à custa de pedras lançadas
são antes testemunhos de sangue e frio
segue pois a tua estrela, cavaleiro
que eu permanecerei a mesma
na triste imobilidade deste rio


Ana Paula Inácio in “As Vinhas de Meu Pai”


Canela

Stem cells

Na Farmácia, e algumas das suas aplicações práticas. No futuro também estarão aqui.
Então não é que o primeiro da bibliografia é o meu Lininho (Lino Ferreira), aquele que me diz constantemente: Jasmim tens de vir para o MIT. Eu digo-te: já esteve mais longe.


Canela

segunda-feira, outubro 22, 2007

Alguma coisa, para me veres entre chuva carmim



I don’t want you for a weekend lover.
I just want see you laughing in the purple rain.


Canela

I still have some questions

In my dream,
drilling into my marrow
of my entire bone,
my real dream,
I’m walking up and down Beacon Hill
searching for a street sign --
namely MERCY STREET.
Not there.



Anne Sexton in “Mercy Street”


Canela

As coisas que só me acontecem a mim…

O meu dia começa quase invariavelmente às 6 da manhã, mas hoje custou-me imenso acordar. Primeiro porque passei o fim-de-semana todo a trabalhar. Segundo porque dormi muito pouco. Terceiro porque me perdi algures entre o estabelecer prioridades e algumas partes do trabalho que me apaixonam, e não cumpri todos os meus objectivos, o que significa que acumulei trabalho. Por todo isto, hoje de madrugada, depois do banho de imersão para acordar voltei a enfiar-me debaixo do edredão de plumas a desejar que fosse Sábado ou só mais 5 minutos de aconchego.
Isto só para dizer que, quando não me apetece sair de casa, termino o dia invariavelmente por encontrar a razão ou as razões.
A primeira começa por dois toques no telemóvel que recebo às 11, logo seguidos de uma mensagem: Toca a acordar meu amor lindo e dorminhoca! Fiquei seguramente uns minutos a olhar para aquela mensagem e com tal neura que respondi: Da próxima vez, querido, acorda-me às 5.45 da manhã. Mas, não a enviei, somente, porque me faltou a coragem de responder a uma mensagem que veio parar ao meu telemóvel por engano.
A segunda, e a que me causou náuseas, aconteceu à tarde, quando precisava de arejar, de fazer uns planos mentais para rentabilizar o trabalho e de cafeína para não deixar decair o ritmo. Saio à rua como sempre entregue a um mundo que é só meu. Este mundo não me permite ver ninguém e a minha condução faz-se basicamente por instinto. Devo ter parado numa paragem de autocarro para pensar, quando foi abordada por um fulano ainda novo (o que me provoca mais náuseas) que me diz:
- Não se importa de me ajudar!
Como não estava nem aí, pergunto: Como?
- Precisava da sua ajuda!
Reparo, finalmente, que estou perto de uma paragem de autocarro, onde estão mais pessoas e sua excelência continua:
- Não se importa de chegar aqui!
- Claro que me importo! Diga o que deseja – pergunto eu a sentir-me estúpida.
- Queria-lhe fazer uma pergunta em particular!
- Eu não tenho conversas em particular com estranhos!
- Então vou mesmo ter de lhe fazer a pergunta á frente de toda a gente – já a falar baixinho.
E continua:
- Para onde vai?
- E o quê que isso lhe interessa?
- Agora já está a ser agressiva!
Tento prosseguir caminho, mas, para isso tinha de o empurrar para o tirar da minha frente, ou voltava para trás, o que podia ser encarado como uma atitude de cobardia como na selva.
- Tenha calma, só lhe quero fazer uma pergunta, e não quero que leve a mal! Diga-me que não leva a mal, por favor!
- Por favor, saia da frente! – tento fazer com que me deixe prosseguir.
- Diga-me que não leva a mal!
- Não respondo a perguntas das quais não conheço o conteúdo – respondo.
- Qual é o seu estado civil?
Nesta altura deve tê-lo fulminado com os olhos, porque se afastou de mim, mas ainda teve coragem para dizer:
- Gostaria de lhe dizer mais intimamente o quanto é bonita.
Prossegui o caminho a sentir-me absolutamente enojada. Enoja-me sempre que um homem olha para mim desta forma e com este tipo de abordagem. Enoja-me saber que existem homens que olham para as mulheres apenas pelo seu aspecto físico. Sinto pena de homens tão básicos e com tão pouco dentro daquelas cabeças. Felizmente nem todos são assim.
As estórias do dia que envolvem homens não terminaram por aqui, mas hoje julgo que já lhes dei demasiada atenção, por isso, hoje terminam.
Fico só a pensar se este tempo quente em pleno Outubro não tem efeitos secundários sobre a testosterona? E, quem sabe não está aqui um tema para uma futura dissertação!


Canela

Para ti...


Ângela e S.

Directamente do jardim para as vossas mãos. Amanhã será um dia assim: claro, envolvente, em doces tons de rosa. Amanhã será sempre um dia melhor. Caminharemos juntas.


Canela

domingo, outubro 21, 2007

Sunday

Dimanche
Domenica
Söndagen
Søndag
Sonntag
Vasámap


Domingo



Gotan Project


Canela

sexta-feira, outubro 19, 2007

Encontros Perfeitos



Canela

O que me deixa baralhada

Num anúncio de um estabelecimento comercial lia-se e deduzo que ainda se leia:

Executam-se todos os tipos de receituários médicos. Aguardamos a nova colecção.

A mim apeteceu-me ligar para a Farmácia e perguntar se vai sair uma nova colecção de manipulados na Farmacopeia Portuguesa.


Canela

quinta-feira, outubro 18, 2007

Perdi a cabeça…

Não posso sair de casa de mal com a vida, porque só faço asneiras. Hoje, entrei na primeira livraria que me apareceu no caminho e comprei 1 (um) livro por 100 Euros (cem Euros). Não, não é engano, a leitura está absolutamente correcta: um livro = 100 Euros. Claro que sai a pensar, ensandeci de vez, será que há alguém que me interne. Ainda se fosse uma obra literária para a vida, daquelas que se eternizam pela escrita genial dos seus autores, ainda se fosse uma colectânea de poesia. Não, não, e não. É uma obra literária que, segundo as minhas previsões, nos próximos cinco anos estará desactualizada, se não for antes! É uma obra que compila (sempre achei este termo curioso!) um conjunto de trabalhos de um bando de desgraçados que, como eu escrevem de graça. É aqui que o termo “compila” se aplica na verdadeira ascensão da sua fonética, sem dúvida que me faz sentir “compilada” a torto e a direito. Senão vejamos, andamos nós (os desgraçados) a trabalhar como loucos para publicarmos uns papers, que ainda têm de ser submetidos a uns refrees que estão sempre a ver onde nos podem “compilar”, e, se o artigo é bom, e se nós até já somos conhecidos no “mercado” pelo número e qualidade de artigos que publicamos, os gajos ainda nos pegam pelo inglês. Aqui podemos sempre aplicar a expressão de um colega meu, numa situação semelhante: I like to innovate. E que tal, pagarem pela inovação? Não, não recebemos um mísero cêntimo e ficamos hiper-felizes quando o artigo vem para trás com uma série de correcções e com uma chamada de atenção do tipo: Olhe, sabe, aqui na “casa” também temos gente que escreveu sobre algo parecido, e que tal escrever essa referência no paper. Lá voltamos nós a sentirmo-nos “compilados”, mas como a revista tem um índice de impacto elevado, só nos resta escrever a referência. Finalmente (o que pode significar meses de espera e angústia), recebemos o veredicto final: aceite para publicação e não cabemos em nós de contentes. Alguém nos paga alguma coisa? Jamais. A nossa felicidade diminui? Não. Como os bloguistas passamos a consultar quase diariamente o sitemeter das citações dos nossos papers e a nossas conversas diárias vão sempre dar ao mesmo: Então já mais alguém citou o teu artigo X? Ora, façam-me um favor: poupem-me. Não cobramos nada pelos papers, nem pelos capítulos de livros dos que nos compilam e depois alguém nos cobra 100 Euros por um livro de compilações e nós pagamos. Não sei, mas estava aqui a pensar se não deveríamos modificar estas situações.


Canela (A subversiva)

Alguma coisa, para me ouvires sonhar


Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha,
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva duma estrada

alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler

alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-Lo passar na direcção dos rios

alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar




António José Forte in “Poema”

Pintura de Marcelino Vespeira (“Heteroformal”), óleo sobre tela


Alguma coisa que me traga a paz que não consigo arrancar nos interstícios do "Eu". Um estímulo forte direccionado ao ponto da auto-estima. Hoje, não vai lá com massagem, Mestre!
Preciso tanto de poesia e cor. Sinto-me irreversivelmente friável.


Canela

quarta-feira, outubro 17, 2007

Be Dangerous



You are always dangerous if you are Honest

Canela

Perversão é...

Desenharmos o perfil alheio à nossa imagem e semelhança.
O que, francamente, me agrada em toda esta insanidade é a existência de um certo auto-conhecimento.


Canela

Este Blog…


Levanta-se contra a Pobreza e a Exclusão Social.



Fotografia de Nuno Lobito (“My Nu”), retirada do sítio “Olhares”

Canela

terça-feira, outubro 16, 2007

As coisas que só me acontecem a mim…

Ontem, ao final da tarde (para ser mais precisa inicio da noite), após um dia extenuante de trabalho, decidi parar na padaria para comprar pão (finalmente a gastroenterite vai cedendo e começo a sentir fome). Entro e peço dois pães-de-leite. Mal acabei de fazer o pedido pensei – porquê pão-de-leite? Há quanto tempo não como pão-de-leite? Porquê que o meu cérebro controla a minha vontade e a minha boca? Não teria sido mais simples pedir só pão? Não será melhor rectificar o pedido? Não, não era melhor, porque já me estava a ser entregue o saco com o pão. Paguei os dois pães-de-leite. O senhor que me atendeu olhou-me fixamente e abriu um sorriso de orelha a orelha. Deve ter percebido o meu dilema! – pensei.
Sai, ainda, a pensar que não posso deixar que uma parte de mim tome controlo do todo.
Chego a casa, abro a saca do pão e o que vejo?! Dois pães-de-leite e três pães normais!
Sinceramente, assusta-me que alguém me veja à transparência melhor do que eu!
Claro que comi um pão normal e adormeci tranquilamente.


P.S. - Obrigada pelos três pães oferecidos!


Canela

First Question…

What are days for?
Days are where we live.
They come, they wake us
Time and time over.
They are to be happy in:
Where can we live but days?

Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor
In their long coats
Running over the fields.


Philip Larkin in “Days”


Canela

segunda-feira, outubro 15, 2007

Serás... ?




Serás capaz
de responder a tudo o que pergunto?


Alexandre O'Neill in "Poesias Completas"


Canela

domingo, outubro 14, 2007

A eterna Cruz dos teus (a)braços

(…)
Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
e esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.
(…)


Vinicius de Moraes in “O Haver”


Canela

13 de Outubro

Ontem, deixar passar “em branco”, uma data que ficou e ficará para sempre registada na minha vida. Culpa da montanha de trabalho, na qual estou atulhada, culpa da minha gastroenterite vírica que entretanto “arrasou” com o meu sistema imunitário e como diz o povo: um mal nunca vem só.
Mas os sonhos não se deixam esquecer, nem mesmo pelos mais distraídos como eu.
Nem sei se foi um sonho, ou se não passou de uma vaga ideia, lembrou-me que, alguns anos atrás, foi algo que me ocorreu. Seria magnífico – pensei, mas rapidamente tentei dissipar o devaneio por me parecer absolutamente impossível. Sonha, sonha! Quanto custa sonhar? Afinal não custava nada, além de que, o sonho pressagiava um futuro, no qual eu não acreditava.
Os anos foram passando, e no dia que eu mais precisava de acreditar em alguma coisa, surgiu a verdade que eu conhecia de um sonho dissipado. Ora, para que tudo fizesse sentido, se nunca acreditei no sonho, não iria nessa altura acreditar na verdade. E a minha postura de “defesa”, foi “faz-de-conta”. Isto já passa! Porque é que tenho de ser eu a escolhida?! Nunca percebi, porque não queria perceber. Até ao dia em que assinamos o contrato (eu e o sonho). O carácter efémero da vida, ensinou-me que até como os sonhos devemos estabelecer contratos a termo. Depois da assinatura sai apressadamente, e quando de repente no último lance de escadas dou de caras com a procissão do adeus à Virgem em Fátima, parei, e de imediato percebi, o que até ali não quis entender. Neste sonho estão duas das pessoas que mais admiro dentro do cristianismo, uma pela abnegação e a outra pelo inconformismo, a Virgem Maria e S. João Baptista, respectivamente.


Canela

sexta-feira, outubro 12, 2007

Pintado a Jasmim


O poema é o desenho desta letra
inclinada pelo rumor do vento
quando lhe peço abrigo
e vejo nele o espelho do meu corpo
repousando nos teus braços de ontem.

A tinta ainda não acabou de secar.
O cheiro fresco da página vira-se para a página seguinte
e a minha voz ouve-se melhor ao vento
quando conspiramos no silêncio
a próxima letra
e a exactidão do seu desenho.

Agora há mimosas nas árvores
e lá em baixo o rio já não é como era
nem saberia sê-lo.
Esqueci como se bebe a água pela mão
ou como se bebe a mão
do rio.

Eu existia nessa transparência
na flor espiritual e líquida
da tinta
que retoca no papel a sua vida.
Esta letra é o meu nome soletrado por ti,
o meu nome que ainda não está seco
e te olha nas acácias florindo em amarelo
no rigor do inverno.

Qualquer palavra tua me desenha
e assim começa qualquer coisa
que me estava destinada desde sempre.



Rosa Alice Branco in “Flor de Tinta”
Imagem: Pintura de Enrique de Santiago


Canela

quinta-feira, outubro 11, 2007

À procura da Fonte de Tempo

- Bom dia, disse o principezinho.
- Bom dia, disse o comerciante.
Era um comerciante de pílulas aperfeiçoadas que acalmam a sede. Toma-se uma por semana e deixa-se de sentir qualquer necessidade de beber.
- Por que é que vendes isso? disse o principezinho.
- É uma grande economia de tempo, disse o mercador. Os peritos fizeram as contas. Poupam cinquenta e três minutos por semana.
- E o que é que se faz com esses cinquenta e três minutos?
- Faz-se aquilo que se quer…
«Eu, disse para si mesmo o principezinho, se tivesse cinquenta e três minutos para gastar caminharia muito lentamente para uma fonte…»


Antoine de Saint-Exupéry in “O Principezinho”

Canela

quarta-feira, outubro 10, 2007

O tempo que não traz paz


Começo a ser doença obsessiva
ao repetir-me por poemas isto:
as tuas invasões à minha paz.
(Podia até em jeito original
pôr aqui umas notas sobre ti:
cf., vide: textos tal e tal)
Mas é que a minha paz fica toda es-
tragada quando te penso amor.



Ana Luísa Amaral in “Imagens”
Imagem: Pintura de Rodrigo Mota


Canela

terça-feira, outubro 09, 2007

Com o tempo essencial

Ando sem tempo para discursos desconexos e impregnados com a fleuma característica dos prepotentes
Ando sem tempo para sentimentos mesquinhos e ódios que se nutrem com histórias distorcidas de civilizações perdidas.
Ando sem tempo para reuniões onde desfilam vaidades e se sangram os resilientes como nos dias de matança, em pretensos coliseus onde os sádicos assistem com satisfação até ao último estrebuchar das suas vítimas.
Ando sem tempo para conversas paralelas onde se destila veneno que compromete seriamente qualquer função hepática.
Ando sem tempo para rostos fechados pela angústia e frustração.
Mas, também eu estou muito aquém do que deveria ser um ser humano, também eu, ainda, não consigo aceitar tudo o que vou encontrando no caminho. Aceitar tem de ser a palavra-chave. Como um bom taxonomista deveria saber observar, identificar, catalogar, atribuir-lhes uma categoria e passar ao seguinte. Mas não, ainda me deixo mutilar, primeiro a nível organizacional e depois a nível lexical. Sinto-me incapaz de organizar ideias e de as transpor para palavras. Sinto-me incapaz de descrever sentimentos.
Não deixa de ser paradigmático, o facto, de amar tudo quanto faço, de pensar que eles merecem a minha máxima entrega e dedicação e de, simultaneamente, sentir que posso estar a trair quem mais me ama e quem mais amo.
Porque poucas vezes o digo, e não quero que, o possa vir a fazer tarde de mais, deixem-me dizer-vos que vos amo muito. Cada um de vós é para mim muito especial. Aprendi a ver-vos com o coração. A ausência de remetente relaciona-se com a certeza de que, cada um de vós se reconhece nesta partilha de amor.


Canela

terça-feira, outubro 02, 2007

Nuvens de luz

Nos meus maiores momentos de desânimo, a minha mãe costuma dizer-me: filha quando achares que Deus te fechou as portas, olha em volta e observa as janelas.
Nas nesses momentos, a minha cegueira impede-me de encontrar a luz, nem que seja na mais ínfima nesga. Só me apetece dormir, dormir e não acordar, ou acordar para verificar que tudo não passou de um sonho mau.
Mas, Deus conhece todas as minhas limitações e empurra-me sempre para a porta aberta, ou para a nesga de luz. Hoje, não foi diferente. Com os olhos semicerrados para tentar minimizar uma fortíssima dor aguda, recebo uma mensagem que dizia:
Tia Jasmim, sou o P. e nasci hoje (dia 1 de Outubro de 2007), sou lindo, muito lindo. Portei-me muito bem e a minha mamã nem teve tempo de preencher o formulário no hospital, porque eu nasci muito depressa, mas muito de mansinho. A mamã quase não se apercebeu. Sou um rapagão grande, dorminhoco e comilão.
E, eu digo-te meu amor: que hoje fizeste chover luz. Sê bem-vindo meu amor lindo.


Canela

segunda-feira, outubro 01, 2007

Até Breve

Todos conhecemos a finitude da vida, em determinadas alturas mais do que noutras. Mas mesmo assim, a vida não deixa de ser cruel quando nos tira as poucas pessoas magníficas que conhecemos.
Também é certo que tangenciamos a imortalidade quando legamos aos nossos filhos parte do nosso património genético. Parte de nós continuará indefinidamente. Mas, esta certeza não nos alivia a dor, não diminui a saudade, não nos restitui os entes amados.
S., eu sei que nada do que possa dizer te alivia a dor e a angústia que se instalaram no teu peito. Quero, apenas, que saibas que continuarei ao lado da minha excelente amiga. Caminharemos juntas, mesmo que a dor nos dilacere.


Canela