O meu dia começa quase invariavelmente às 6 da manhã, mas hoje custou-me imenso acordar. Primeiro porque passei o fim-de-semana todo a trabalhar. Segundo porque dormi muito pouco. Terceiro porque me perdi algures entre o estabelecer prioridades e algumas partes do trabalho que me apaixonam, e não cumpri todos os meus objectivos, o que significa que acumulei trabalho. Por todo isto, hoje de madrugada, depois do banho de imersão para acordar voltei a enfiar-me debaixo do edredão de plumas a desejar que fosse Sábado ou só mais 5 minutos de aconchego.
Isto só para dizer que, quando não me apetece sair de casa, termino o dia invariavelmente por encontrar a razão ou as razões.
A primeira começa por dois toques no telemóvel que recebo às 11, logo seguidos de uma mensagem: Toca a acordar meu amor lindo e dorminhoca! Fiquei seguramente uns minutos a olhar para aquela mensagem e com tal neura que respondi: Da próxima vez, querido, acorda-me às 5.45 da manhã. Mas, não a enviei, somente, porque me faltou a coragem de responder a uma mensagem que veio parar ao meu telemóvel por engano.
A segunda, e a que me causou náuseas, aconteceu à tarde, quando precisava de arejar, de fazer uns planos mentais para rentabilizar o trabalho e de cafeína para não deixar decair o ritmo. Saio à rua como sempre entregue a um mundo que é só meu. Este mundo não me permite ver ninguém e a minha condução faz-se basicamente por instinto. Devo ter parado numa paragem de autocarro para pensar, quando foi abordada por um fulano ainda novo (o que me provoca mais náuseas) que me diz:
- Não se importa de me ajudar!
Como não estava nem aí, pergunto: Como?
- Precisava da sua ajuda!
Reparo, finalmente, que estou perto de uma paragem de autocarro, onde estão mais pessoas e sua excelência continua:
- Não se importa de chegar aqui!
- Claro que me importo! Diga o que deseja – pergunto eu a sentir-me estúpida.
- Queria-lhe fazer uma pergunta em particular!
- Eu não tenho conversas em particular com estranhos!
- Então vou mesmo ter de lhe fazer a pergunta á frente de toda a gente – já a falar baixinho.
E continua:
- Para onde vai?
- E o quê que isso lhe interessa?
- Agora já está a ser agressiva!
Tento prosseguir caminho, mas, para isso tinha de o empurrar para o tirar da minha frente, ou voltava para trás, o que podia ser encarado como uma atitude de cobardia como na selva.
- Tenha calma, só lhe quero fazer uma pergunta, e não quero que leve a mal! Diga-me que não leva a mal, por favor!
- Por favor, saia da frente! – tento fazer com que me deixe prosseguir.
- Diga-me que não leva a mal!
- Não respondo a perguntas das quais não conheço o conteúdo – respondo.
- Qual é o seu estado civil?
Nesta altura deve tê-lo fulminado com os olhos, porque se afastou de mim, mas ainda teve coragem para dizer:
- Gostaria de lhe dizer mais intimamente o quanto é bonita.
Prossegui o caminho a sentir-me absolutamente enojada. Enoja-me sempre que um homem olha para mim desta forma e com este tipo de abordagem. Enoja-me saber que existem homens que olham para as mulheres apenas pelo seu aspecto físico. Sinto pena de homens tão básicos e com tão pouco dentro daquelas cabeças. Felizmente nem todos são assim.
As estórias do dia que envolvem homens não terminaram por aqui, mas hoje julgo que já lhes dei demasiada atenção, por isso, hoje terminam.
Fico só a pensar se este tempo quente em pleno Outubro não tem efeitos secundários sobre a testosterona? E, quem sabe não está aqui um tema para uma futura dissertação!
Canela