quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A página certa

«A estrada versus uma vida sedentária. Nunca pensava muito nisso até ter feito cinquenta anos. Foi então que conheci uma mulher pela qual teria largado tudo, até mesmo a estrada. Mas entre nós dois interpunham-se alguns obstáculos, e aquela era a minha única oportunidade. Depois, voltei para a estrada carregado com as minhas máquinas fotográficas. Nestes últimos anos desisti de viajar, mas continuo sozinho. Todos os anos que passei na estrada (para além da minha natureza solitária, e suponho que um pouco anti-social) não me prepararam para me aproximar dos outros. A mulher, essa mulher – foi a minha única oportunidade para atingir aquilo de que falo, e no entanto com ela nunca houve oportunidade alguma, agora que penso nisso com mais atenção. Assim, durante todos os anos em que tu lias de noite à luz de uma lâmpada amarela e te interrogavas sobre os lugares mais longínquos do globo, talvez com vontade de visitar todos esses sítios em que estive dúzias de vezes, durante todos esses anos eu passava diante da tua janela e desejava exactamente o contrário. Desejava a tua cadeira e a tua lâmpada, a tua família e os teus amigos. Provavelmente chovia na noite em que passei diante da tua casa, com o meu equipamento no assento ao lado do condutor, em busca de um motel que não me pesasse duramente nas finanças. Devo ter encontrado algum; dormi e prossegui a minha caminhada no dia seguinte, sem me esquecer da tua lâmpada amarela de noite.»


Robert L. Kincaid in “O Preço de Partir”


Preços associados a opções de vida.


Canela

4 comentários:

Anónimo disse...

Ahh... Que texto lindo, faz a gente pensar mesmo.
Coisas como invejar a vida de outros que invejam a nossa vida... O jeito é viver o que somos e sonhar o que gostariamos de ser, um modo Fernando Pessoa de viver a Vida.

Então, talvez você até não acredite em mim, mas você já retribui tudo o que eu te dou... Só o fato de me notares já me faz viver. Assim sou eu, não chego a ser pessoa, sou idéia. Só me sinto quando me notam.

Já sou feliz se te faço feliz de alguma maneira, me sinto fazendo sentido de alguma forma. ^^

Mas você também, aposto que mereces as amizades que tem. Você também faz bem as pessoas e as mima, viu?

Não ache que só você é mimada, eu tb sou ;D

Desde que vi seu blog e te "conheci", nunca mais senti o sabor de Canela do mesmo jeito.

Sempre tem um poquinho de você.

Quem dera todos pudéssem ter esse prazer, de saber verdadeiramente o gosto de Canela, como sinto.

Au revoir ma cheri...
Abraços e Beijos =*

Anónimo disse...

Depois deste comentário vou-me sentir aquem...
De qualquer forma, e como sou mulher de ciência, vou continuar a experimentar...
buscando o "motel" onde todos nós gostariamos de residir!
Piro

Anónimo disse...

O jeito é viver com o coração, por norma viver com a razão conduz, mais cedo ou mais tarde ao arrependimento. Há uns tempos atrás, numa situação de doença da minha mãe deixei para trás tudo o que podia e me impedia de lhe dar todo o meu amor e apoio. Claro, deixei uma carreira que aos olhos de alguns seria muito promissora. Nessa altura tive de me submeter a um “crivo” de críticas, de reprovações e até de “virar de costas”.
Mas acredita Trovador ainda que tivesse de passar fome ou viver debaixo de uma ponte teria agido da mesmíssima forma. Nunca me arrependi, e, afinal a carreira não deixou de ser o que sempre foi.
Fazes todo o sentido doce Trovador e neste momento em que “nuvens negras pairam no ar” tens sido um doce alento e um profundo Sol. Acredito que nada acontece por acaso, mas se o acaso existir, por acaso apareceste no momento exacto. No momento em que toda a gente me enche de mimos de ternura e de amor, o que me ajuda a não esmorecer e a continuar a lutar por tudo aquilo em que acredito.
Tens uma presença fortíssima e a tua poesia transporta toda a tua sensibilidade e beleza, a seres “ideia” és uma ideia brilhante.
Tem sido muito prazeroso “conhecer-te”.
Obrigada doce Trovador
Beijinhos

Anónimo disse...

Tu estás sempre além…
Uma mulher de ciência tem de ver muito além, ver o que está para além do campo de visão… o horizonte nunca será o limite!
Se fosse um “Motel” onde eu pudesse resistir (física e psicologicamente) preferia, acredita!
Beijocas