quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A Pequenez

«O «pequeno» representa o tamanho perfeito, adequado ao seu investimento afectivo. Alvo electivo da sua ternura, tamanho-fétiche que apela ao seu carinho irreprimível, o pequeno contém em si as potencialidades de expressão que dele naturalmente decorrem e que depois se transferem para todos os adjectivos e nomes próprios: pequenino, pequenito, pequerrucho, etc. Como se o «pequeno» fosse a raiz dos diminutivos afectivos, a essência que percorre o conjunto inteiro das nuances dos «inhos» e «itos» declinando as inúmeras espécies da pequenez.
O português revê-se no pequeno, vive no pequeno, abriga-se e reconhece-se no pequeno: pequenos prazeres, pequenos amores, pequenas viagens, pequenas ideias («pistas»… que se abrem aos milhares a cada pequeno ensaio).»



José Gil in “Portugal Hoje O Medo de Existir”


Canela

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Comovente


Quando nos dedicam o “Fado dos Beijos


Canela

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Espaços Encurtados

Cruzar olhares será tarefa fácil,
mas não trocar de olhar:

Em foco: um outro ponto, do avesso,
em avesso: outra luz,
outra paisagem

Como de um outro azul,
um brilho outro,
um céu rasgado a nuvens
de outra cor

Cruzar olhares será tarefa breve,
trocar de olhar: uma forma de pôr
em palco de deserto, antes miragem:
agora uma viagem
sem regresso

- que a troca: irreversível:

Uma forma de excesso devolvido
ao espaço inabitado
por igual

Cruzar olhares: uma tarefa curta.
(A outra:
a mais gramatical
forma de amar)




Ana Luísa Amaral in “Gramáticas do olhar”
Pintura de Paula Rego (“Broken Promises”), imagem retirada daqui.


Canela

sábado, fevereiro 23, 2008

Agradecimento I

Para o P. e o J.

Nos dias nem sempre fáceis recebemos mensagens que, deixam os outros felizes: «Preciso que venhas ao bloco. Muita medula». Conheço a história e dispenso os detalhes. Não sinto o mesmo entusiasmo dos outros. É muita medula (situação rara). O trabalho é meu. Mas, ainda não aprendi a alhear-me, não consigo distanciar-me e deixo-me cobrir por um “véu negro”. Os meus dois amigos de bancada tentam entusiasmar-me, mas eu perco a capacidade de sorrir. Em dias “normais” eu brincaria com tudo, até com as palavras. Nos dias de “muita medula” eu quero apenas arranjar coragem para trabalhar. O P. é o primeiro a aperceber-se, e, como também brinca com as palavras, diz que sou «cristalina como a água da montanha». Pela mesma razão o P. também é o primeiro a tentar restituir-me a alegria: “Deixa Jasmim, eu faço-te essa parte do trabalho!”. Agradeço, mas recuso, já me tinha auto-convencido que a minha angústia teria que valer a pena. Entretanto chega o J. que tem sempre um ar de quem lhe-passa-tudo-ao-lado, mas não, de nós os três será talvez o mais atento ao estado anímico dos outros.
O J. tem sempre um sorriso no rosto, pergunta-me se vou precisar de usar a câmara toda. Eu respondo-lhe que não.
- Então chega-te para lá, que nós vamos precisar deste canto para trabalhar – dizem-me. Sentam-se os dois ao meu lado e começam a falar de livros e de filmes. Como sempre acabamos, os três, a rir.
Quando finalmente termino o trabalho, reparo que aqueles dois meninos não tinham feito rigorosamente nada e pergunto:
- Mas afinal vocês não fizeram nada?!
- Enganas-te! – respondem-me – Fizemos-te rir! E, esse era o nosso trabalho de hoje!
Fiquei sem palavras e com os olhos rasos de água e suas excelências novamente a brincar:
- Vamos lá a sorrir, porque não vamos ficar aqui mais uma hora a contar-te estórias!
Nos dias de "muita medula”, tenho “dois-anjos-da-guarda”.
Obrigada.


Canela

I Know...


Michael Clayton


Canela

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A página certa

«A estrada versus uma vida sedentária. Nunca pensava muito nisso até ter feito cinquenta anos. Foi então que conheci uma mulher pela qual teria largado tudo, até mesmo a estrada. Mas entre nós dois interpunham-se alguns obstáculos, e aquela era a minha única oportunidade. Depois, voltei para a estrada carregado com as minhas máquinas fotográficas. Nestes últimos anos desisti de viajar, mas continuo sozinho. Todos os anos que passei na estrada (para além da minha natureza solitária, e suponho que um pouco anti-social) não me prepararam para me aproximar dos outros. A mulher, essa mulher – foi a minha única oportunidade para atingir aquilo de que falo, e no entanto com ela nunca houve oportunidade alguma, agora que penso nisso com mais atenção. Assim, durante todos os anos em que tu lias de noite à luz de uma lâmpada amarela e te interrogavas sobre os lugares mais longínquos do globo, talvez com vontade de visitar todos esses sítios em que estive dúzias de vezes, durante todos esses anos eu passava diante da tua janela e desejava exactamente o contrário. Desejava a tua cadeira e a tua lâmpada, a tua família e os teus amigos. Provavelmente chovia na noite em que passei diante da tua casa, com o meu equipamento no assento ao lado do condutor, em busca de um motel que não me pesasse duramente nas finanças. Devo ter encontrado algum; dormi e prossegui a minha caminhada no dia seguinte, sem me esquecer da tua lâmpada amarela de noite.»


Robert L. Kincaid in “O Preço de Partir”


Preços associados a opções de vida.


Canela

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Links de Amor

Trovador

«Ahh, ma cheri... Que texto... Emocionante, de verdade... Se me permite, vou colar aqui o trecho de um livro do qual sempre me lembro quando me falam de choro...
Linkei seu blog no meu e sinceramente, se me pedir pra tirar o link de lá, vou recusar.
Faço questão.»

Trovador um enorme xi-coração. A nossa amizade define-se assim: duas pessoas que nunca se viram e, no entanto, conhecessem tão bem!
O link vai muito para além do Blog. Mas, no jasmim também está um Trovador.
Obrigada e muitos beijinhos

Ângela

«Querida amiga!
Pessoalmente, acho que só há duas maneiras de completamente libertar da alma, toda a fúria, raiva, angústia e desepero que se sinta: Chorar ou gritar.
E depois alguém que nos de colo...
Não duvides que és amada, e muito.
Um grande xi coracão com muito amor de nós os três.»

Como poderia duvidar do que sinto?! Agarro-me a todo o vosso amor para ter a força necessária para continuar.
Tens toda a razão quando dizes que a energia que emano assusta! E sabes que energia é essa?! Nada mais, nada menos que, o reflexo de todo o amor que recebo das minhas doces-prendas-de-amor.
Um xi-coração enorme e muitos beijinhos para os meus três amores.

Piro

«Amiga, espero que este momento mau já tenha sido resolvido!
Colinho aqui...está sempre disponível para quando precisares.Um enorme abraço de todos os que aqui te querem bem»

Se fosse só colinho! De ti também recebo tanto amor! São os nossos eternos laços-de-amor. Jugo que não é por acaso que estamos todos juntos.
Um xi-coração apertadíssimo como aqueles dos nossos reencontros. Muitos beijinhos para os meus três amores.
Todos os problemas serão resolvidos, e, fossem estes todos os problemas.

Mais agradecimentos nos próximos “posts” prometo, hoje estou estourada e a cair de sonho.
Obrigada

Canela

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Chorei

Chorei muito e como não chorava há muito tempo – chorei de fúria, de raiva. Chorei por estar a chorar. Mas primeiro peguei o touro pelos cornos, com tanta calma, que ele saiu a deitar fumo pelas ventas.
Não gosto de fugir. Adoro olhar o mal de frente, mesmo quando sei que posso morrer. Ainda não foi hoje.
Depois já não chorava há tanto tempo, que me fez bem lembrar como era.
Obrigada aos mimos, ao colo e às palavras doces. Hoje senti-me tão amada. Obrigada.



Canela

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Espaço



Despede-te de mim, bate devagar à porta:
tenho vontade de recomeçar, reerguer escombros,
ruínas, tarefas de pão e linho, não dar
nome às coisas senão o de um vago esquecimento,

abandono. Despede-te de mim como se a vida
recomeçasse agora, não me procures onde
a memória arde e o destino ausenta.

Tudo são banalidades, afinal, quando assim
se recomeça e a vida falha como um material
solar e ilhéu. Levamos poucas coisas, basta
um pouco de ar, os objectos fixos, em repouso,

os muros brancos de uma casa, o espaço
de uma mão. Arrumo as malas e os sinais,
aquilo que nos adormece em plena tempestade.


Francisco José Viegas in “De amor”

Pintura de Matthew Zoll in “Cherris”


Canela

Maldade

Algo me diz que é similar aos fluidos pseudo-dilatantes.


Canela

A Netcabo na vanguarda da regionalização!

Region: Porto
City: Lisbon


Com tão pouco se resume tanto.


Canela

sábado, fevereiro 09, 2008

The return or…

The Rebirth of a Goddess

Canela

Prometo



Que fico a pensar...



Imagem retirada de Royal Canin Portugal



Canela

Regarde bien

Celui qui regarde au dehors à travers une fenêtre ouverte ne voit jamais autant de choses que celui qui regarde une fenêtre fermée. Il n´est pas d´objet plus profond, plus mystérieux, plus fécond, plus ténébreux, plus éblouissant qu´une fenêtre éclairée d´une chandelle. Ce qu´on peut voir au soleil est toujours moins intéressant que ce qui se passe derrière une vitre.



Charles Baudelaire


Canela

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Recados

Recado escrito num “post-it” pelo meu pai: «Lembra-te que não és de ferro. És absolutamente humana»
Amiga e colega: «Julgo que ainda não te disse, mas admiro-te muito. És uma grande mulher e com uma coragem imbatível.»
Advogado a falar como médico: «Está com ar exausto» - corrige - «Não! Está com ar absolutamente exaurido! O que se passa consigo?!»

Ando a testar limites, sem os atingir.


Canela

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Carnaval


Onde todos os excessos são permitidos.
Se através do “Blog” fosse possível difundir o cheiro e o paladar, hoje tinha uma enchente em casa.

Bom Carnaval


Canela

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

«Across the Universe»


Já que a NASA não chega ao “Blog”, chega o “Blog” á NASA.
«Across the Universe» a música dos Beatles que a NASA enviará hoje para o espaço, para comemorar o 50º aniversário da sua fundação e o 40º aniversário da gravação da canção «Across the Universe».
A música será enviada na direcção da estrela Polar que dista 431 anos-luz da Terra e viajará pelo universo a uma velocidade de 300.000 km/seg.


Imagem retirada da NASA


Canela

sábado, fevereiro 02, 2008

Os Pachecos que fazem falta

Este ministro é um mentiroso
que agonia quando ele discursa
e se fosse só isso: bale sem jeito
às meias horas seguidas – e não pára!

bem-aventurados os duros de ouvido
a quem o céu abrirá as portas
desliguem p.f. o microfone
ou então tirem o país da ficha


Fernando Assis Pacheco

Canela

Pacheco, Fernando Assis

Meu Deus como eu sou paraliterário
à quinta-feira véspera do jornal
nadando em papel como num aquário
ejectando a minha bolha pontual

de prosa tirada do receituário
onde aprendi o cozido nacional
do boçal fingido o lapidário
- fora algum deslize gramatical-

receio que me chamem extraordinário
quando esta é uma prática trivial
roçando mesmo o parasitário
meu Deus dá-me a tua ajuda semanal



Fernando Assis Pacheco in "A Profissão Dominante"


Canela

«I'm not there»



Bob Dylan in "Like a Rolling Stone"


Canela

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Pão e Queijo no Jardim




Canela

Punctum crucis



Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.




José Gomes Ferreira in “Porque é que este sonho absurdo”

Pintura de Salvador Dali (The True Painting of the “Isle of the Dead” by Arnold Böcklin at the Hour of the Angelus), 1932.



E das rosas só restaram as pétalas, porque os espinhos já tinham sido removidos um a um.
Nunca me conseguiste ver as mãos, como poderias alcançar o horizonte?!


Canela