No mundo exótico dos chás, estes são dois dos meus preferidos, mais o de canela e o de amêndoa...confesso!
quarta-feira, janeiro 31, 2007
E porque penso assim...
Jogamos?
Aquele que tem regras mal definidas?
O que recorre à vingança e ao rancor?
O que se arrasta pelos corredores do ódio e da mentira?
Quem são os teus adversários?
Os que falam verdade?
Os que sempre definiram regras
às claras?
Os que te cegam?
O que temes?
As noites mal dormidas?
As estratégias mal definidas?
O ódio com que te vestes?
Os que te dizem “Não”?
O jogo permanece inacabado e resto eu.
Moon Mirror
looks out a million miles
(and perhaps with pride, at herself,
but she never, never smiles)
far and away beyond sleep, or
perhaps she’s a daytime sleeper.
By the universe desert,
she’d tell it to go to hell,
and she’d find a body of water,
or a mirror, on which to dwell.
So wrap up care in a cobweb
and drop it down the well.
into that world inverted
where left is always right,
where the shadows are really the body,
where we stay awake all night,
where the heavens are shallow as the sea
Porque será?*
Que me estou nas tintas
Para toda a gente?
Porque será
Que o que pintas
Me é indiferente?
Porque será
Que nunca acho lindas
Frases do bobo inteligente?
Porque será
que nunca findas
Uma frase coerente?
Porque será
que em adegas e quintas
Bebo desalmadamente?
Será que terei:
De te amar?
De te responder?
De te agradecer?
De te agradar?
Será que serei
Complexo sem fim:
Minha alma vendida,
E que como corre o marfim
Também deixo correr a pena...
Sou opaco até de mim
Só te peço querida:
Não me faças outra cena.
*A. Leite de Faria in "Porque será"
Canela
terça-feira, janeiro 30, 2007
Arrhythmias
Mas não!
Diz o boletim de análises clínicas que estou com excesso de potássio.
Excesso de potássio?!
Dizem os meus colegas que é do tomate.
Excesso de tomate?!
Não!... Não me parece! No Inverno, nem sou muito dada a saladas. Frias. Sou mais dada a sopas. Quentes.
Ai está a explicação! … Pode ser! Pode mesmo ser!... Excesso de alho! … Alho Francês!
Nota de rodapé: Tomate e alho francês são dois alimentos ricos em potássio, como tal, aconselha-se a que sejam consumidos com moderação.
segunda-feira, janeiro 29, 2007
Set me free
Where would you fly?
Far, beyond every part
Of earth this running sky
Makes desolate? Would you cross
City and hill and sea,
If hands could set you free?
I would not lift the latch;
For I could run
Through fields, pit-valleys, catch
All beauty under the sun –
Still end in loss:
I should find no bent arm, no bed
To rest my head.
domingo, janeiro 28, 2007
When I feel the weight of the world on my shoulders*
A todos os meus Amigos...
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
– Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
Herberto Helder in "Aos Amigos"
Canela
sábado, janeiro 27, 2007
sexta-feira, janeiro 26, 2007
Les un et les autres
A preparar-me para um fim-de-semana fantástico com direito a…directas e montanhas de trabalho.
Nem mais!…uns têm tudo, os outros não têm nada!
Canela
quinta-feira, janeiro 25, 2007
Obrigada...
Não consigo deixar...
Burt Bacharach & Barenaked Ladies in "Close to you"
Canela
Without Sense
keeps asking questions.
And then it stops and undertakes to answer
in the same tone of voice.
No one could tell the difference.
Uninnocent, these conversations start,
and then engage the senses,
only half-meaning to.
And then there is no choice,
and then there is no sense;
until a name
Canela
quarta-feira, janeiro 24, 2007
Hoje é um daqueles dias…
Canela
terça-feira, janeiro 23, 2007
Um Raio de Luz
Vais ter, mais, um priminho ou uma priminha!
Que bom!
Preciso, urgentemente, de boas notícias.
Preciso que a luz intensa afaste, definitivamente, a escuridão.
Parabéns primoca e parabéns R.
Para mim, bebé, já és um intenso raio de luz.
Fotografia de autor desconhecido
Canela
Mar
Like a warm drink it seeps into my soul
Please just leave me right here on my own
Later on you could spend some time with me
If you want to
All at sea
Canela
segunda-feira, janeiro 22, 2007
After a rainy day
Tudo o que vires é teu.
A seiva que lutou em cada folha,
E a fé que teve medo e se perdeu.
Abre a janela, e colhe!
É o que quiser a tua mão atenta:
Água barrenta,
Água que molhe,
Água que mate a sede...
Abre a janela, quanto mais não seja
Para que haja um sorriso na parede!
Miguel Torga in “Depois da Chuva”
Fotografia de Miguel ("Ao entardecer") retirada do sítio 1000 imagens
Canela
E o meu coração...
Imagens retiradas de "Portugal Photo Gallery"
Canela
domingo, janeiro 21, 2007
sexta-feira, janeiro 19, 2007
quinta-feira, janeiro 18, 2007
O Diário de Condução
5 de Janeiro
- Passei no exame de condução! Posso agora conduzir o meu próprio automóvel, sem ter de ouvir as recomendações dos instrutores, sempre a dizerem-me "por aí é sentido Proibido!", "Vamos em contra-mão!","Olha a velhinha! Trava! Trava!", e outras coisas do género. Nem sei como aguentei estes últimos dois anos e meio...
8 de Janeiro
- A Escola de Condução fez-me uma festa de despedida. Os instrutores nem sequer deram aulas. Um deles disse que ia à missa, julgo que vi outro com lágrimas nos olhos e todos disseram que iam embebedar-se, para comemorar.
Achei simpática a despedida, mas penso que a minha carta não merecia tal exagero.
12 de Janeiro
- Comprei carro, infelizmente tive que deixar o carro no concessionário, para substituir o pára-choques traseiro, quando tentei sair, meti marcha-atrás em vez de primeira. Deve ser falta de prática. Há uma semana que não conduzo!
14 de Janeiro
- Já tenho o carro. Fiquei tão feliz ao sair do "Stand", que resolvi dar um passeio. Parece que muitos outros tiverem a mesma ideia, pois fui seguido por inúmeros automóveis, todos a buzinar como num casamento. Para não parecer antipático, entrei na brincadeira e reduzi a velocidade de 10 para 5 à Hora. Os outros gostaram buzinando ainda mais.
22 de Janeiro
- Os meus vizinhos são impecáveis. Colocaram “posters” avisando em grandes letras “ATENÇÃO ÀS MANOBRAS”, marcaram com tinta branca um lugar bem espaçoso para eu estacionar e proibiram os filhos de sair à rua enquanto durassem as manobras. Penso que é tudo para não me perturbarem. Ainda há gente boa neste mundo...
31 de Janeiro
- Os outros automobilistas estão sempre a buzinar e acenar-me. Acho isso simpático, embora um pouco perigoso. É que um deles apontou para o céu com o dedo espetado. Quando procurei ver o que me apontava, quase bati. Valeu que eu ia à minha velocidade de cruzeiro de 10 à Hora.
10 de Fevereiro
- Os outros automobilistas têm hábitos estranhos. Para além de acenarem muito, estão sempre a gritar. Não os ouço, por ter os vidros fechados, mas julgo que me querem dar informações. Digo isto porque julgo ter percebido um a dizer " Vai para Casa ". A ser verdade, é espantoso. Não sei como ele adivinhou para onde eu ia. De qualquer modo, quando eu descobrir onde fica o botão de abrir os vidros vou tirar muitas dúvidas.
19 de Fevereiro
- A Cidade é muito mal iluminada. Fiz hoje a minha 1ª condução nocturna e tive de andar sempre nos máximos, para ver convenientemente. Todos os automobilistas com quem me cruzei pareciam concordar comigo, pois também ligaram os máximos e alguns chegaram mesmo a acender outros faróis que tinham. Só não percebi a razão das buzinadelas. Talvez para espantar algum cão ou gato. Sei Lá!
26 de Fevereiro
- Hoje tive um acidente. Entrei numa rotunda, e como havia muitos automóveis (não quero exagerar, mas deviam ser, no mínimo, uns quatro), não consegui sair. Fui dando voltas bem juntinho ao centro, à espera de uma oportunidade, de tal forma, que acabei por ficar tonta e fui chocar com o monumento ao centro da rotunda. Acho que deviam limitar a circulação nas rotundas a um carro de cada vez.
3 de Março
- Estou em maré de azar. Fui buscar o carro à oficina e, logo à saída, troquei os pés, acelerando a fundo em vez de travar. Abalroei um carro que ia a passar, amassando-lhe todo o lado direito. O automobilista era, por coincidência, o engenheiro que me fez o exame de condução. Um bom homem, sem dúvida. Insisti em dizer-lhe que a culpa era minha, mas ele educadamente, não parava de repetir: " Que Deus me perdoe! Que Deus me perdoe!".
"A Carta de Condução" retirado de “We, the people at Jokers Inc.”
Agora, façam-me o favor, de não voltar a pedir para enviar por "E-mail", estamos entendidos!
quarta-feira, janeiro 17, 2007
A votação ainda está a decorrer
E já agora, aproveito para informar o IPPAR, que em Alcobaça, existe o Mosteiro de Santa Maria de Cós, datado do séc. XVIII, que é de uma riqueza incalculável. Tanto quanto sei, este convento foi construído, com o intuito de acolher viúvas. Por essa razão, para além da igreja matriz, era constituído por uma casa de lavoura, por uma adega, etc., que hoje são pertença de particulares. Para além disso, este lindíssimo e riquíssimo monumento nacional está votado, a um tal estado, de abandono e degradação que comove.
Eu participei nesta votação. Mas, seria de extremo interesse nacional, que o IPPAR, “olhasse” definitivamente para todos estes monumentos nacionais votados ao abandono e iniciasse, urgentemente, a sua reconstrução. Caso contrário, as gerações futuras, talvez, nem tomem conhecimento da sua existência.
Para quem tiver interesse em obter mais informação acerca do Mosteiro de Santa Maria de Cós, o sítio é este: Mosteiro de Santa Maria de Cós.
Num próximo concurso, sugiro que, em vez de restringirem os iniciais 793 monumentos nacionais a 77, deixem todo em aberto. Eu, particularmente, gostaria muito de ter votado, por exemplo, nestes dois monumentos:
Convento de Arouca – datado do séc. X, e pertencente desde do inicio do séc. XII até finais do séc. XIX à Ordem de Cister. Dos seus espaços mais notáveis, são de destacar, para além da Igreja (que é belíssima), o coro das Freiras, os claustros, o refeitório e a cozinha. Neste espaço poderemos, ainda, encontrar um conjunto de peças incrivelmente belas e raras, que englobam escultura, pintura, tapeçaria e ourivesaria, para além, do Museu de Arte Sacra. Muito, muito bonito.
O segundo destaque refere-se ao Santuário da Nossa Senhora da Lapa – em Moimenta da Beira, ladeado por uma aldeia que, felizmente, ficou “parada no tempo”, incrivelmente bonito. É um, daqueles lugares, que dá vontade de ficar por muito tempo e depois, de voltar sempre.
Para finalizar, para além dos monumentos, seria agradável que abrissem, também, as “portas” do concurso ao património natural, que em Portugal, infelizmente, tem sido bastante desprezado.
Aqui fica o repto.
Já agora, para quem, como eu, gosta das chamadas “férias à aventura”, sem nada marcado e onde as decisões se tomam em cada instante, aqui ficam as duas sugestões anteriores para fins-de-semana, ou férias grandes (a sugestão é apenas o inicio!).
Convento de Arouca.
Santuário da Nossa Senhora da Lapa.
O Norte é Feminino*
O Norte é feminino.
As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.
Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem.
As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente. Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos. O Norte é a nossa verdade. Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.
Depois percebi. Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte". Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo.
Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente. No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima.
O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?
*Miguel Esteves Cardoso in "Norte Nome de Portugal"
Porto ao Anoitecer - Imagem retirada de www.cm.porto.pt
terça-feira, janeiro 16, 2007
segunda-feira, janeiro 15, 2007
domingo, janeiro 14, 2007
O amor na matemática...
Mas como todos sabem, o amor não tem limites e vai do mais infinito ao menos infinito. Apaixonado, o quociente a olhou do vértice à base, sob todos os ângulos, agudos e obtusos.
Era linda, uma figura ímpar e punha-se em evidência: olhar rombóide (=rombo - losango), boca trapezóide, seios esféricos num corpo cilíndrico de linhas senoidais (=curvas).
- Quem és tu? - Perguntou o quociente com olhar radical.
- Sou a raiz quadrada da soma do quadrado dos catetos. Mas podes chamar-me hipotenusa – respondeu ela com uma expressão algébrica de quem ama.
Ele fez de sua vida uma paralela à dela, até que se encontraram no infinito. E se amaram ao quadrado da velocidade da luz, traçando ao sabor do momento e da paixão, rectas e curvas nos jardins da quarta dimensão.
Ele a amava e a recíproca era verdadeira.
Adoravam-se nas mesmas razões e proporções no intervalo aberto da vida.
Três quadrantes depois resolveram casar-se. Traçaram planos para o futuro e todos desejaram felicidade integral. Os padrinhos foram o vector e a bissectriz.
Tudo estava nos eixos. O amor crescia em progressão geométrica. Quando ela estava em suas coordenadas positivas, tiveram um par: o menino, em homenagem ao padrinho, chamaram de versor; a menina, uma linda abcissa.
Ela sofreu duas operações.
Eram felizes até que, um dia, tudo se tornou uma constante. Foi aí que surgiu um outro. Sim, um outro. O máximo divisor comum, um frequentador de círculos viciosos. O mínimo que o máximo ofereceu foi uma grandeza absoluta.
Ela sentiu-se imprópria, mas amava o máximo.
Sabedor desta regra de três, o quociente chamou-a de fracção ordinária.
Sentindo-se um denominador comum, resolveu aplicar a solução trivial: um ponto de descontinuidade na vida deles. Quando os dois amantes estavam em colóquio, ele em termos menores e ela de combinação linear, chegou o quociente e num giro determinante disparou o seu 45.
Ela foi para o espaço imaginário e ele foi parar num intervalo fechado, onde a luz solar se via através de pequenas malhas quadráticas.
Anónimo
"A Tragédia na Matemática" retirado de “We, the people at Jokers Inc.”
Este era, de facto, um amor condenado à partida, senão vejamos:
“Ele fez da sua vida uma paralela à dela…”
Ele, um simples quociente, variável descontinua!!! Alguém me explica este fenómeno?
Mas vamos reduzir o erro ao absurdo e supor que sim.
Como é que duas linhas paralelas se encontram no infinito?
“…amaram-se ao quadrado da velocidade da luz…”
“…rectas e curvas…”
Como é que duas linhas rectas são curvas?
Nem queiram saber o que significa curva em húngaro, aliás é bom que, nunca prenunciem este vocábulo por lá!!!!
Como é que duas linhas rectas passam para o terceiro quadrante?
sábado, janeiro 13, 2007
sexta-feira, janeiro 12, 2007
Voluntariado
Estava com uma reacção inflamatória que lhe atingia, sobretudo, os braços e o rosto, quase não conseguia articular as palavras e tremia imenso. Relativamente à reacção inflamatória, um corticóide resolveu o problema.
Mas para falta de carinho não existem “corticóides” à venda. Para a violência psíquica, que certos deficientes afectivos praticam sobre estas pessoas fragilizadas, devia de haver uns dias de cadeia.
Ontem a minha Dona T. precisou muito mais do que um corticóide.
Preciso que lhe desse a sopa, os comprimidos, que conversasse um pouco com ela para a acalmar.
Depois precisou que lhe vestisse o pijama, que a metesse na cama e que lhe desse muitos, muitos beijinhos de Boa Noite.
Antes de sair, pediu-me o terço e ficou a rezar por mim.
Sai tranquila, porque vi que, o meu "anjo-da-guarda" ficou bem.
De regresso a casa lembrei-me da multidão de “anjos”, que saem para a rua aquela hora, para levar carinho, refeições quentes, agasalhos e cuidados médicos aos sem abrigo. Dos que saem, também, de manhã e vão para os hospitais, para lares de crianças e idosos abandonados, dos que vão de porta em porta carregados de bens essenciais, dos que ajudam as crianças à porta da escola, dos que estão ao lado dos que sofrem.
Lembrei-me de todos estes inconformados, dos que não têm artigos nos jornais de tiragem diária, dos que não vêm em revistas, nem na televisão.
Lembrei-me de todos os inconformados que se cansaram de ouvir e preferem agir. Dos que descobriram a importância de um sorriso, de um abraço, de um estender de mão. Dos que descobrem todos os dias a importância da vida.
A todos os voluntários o meu profundo e eterno agradecimento. Bem hajam.
Ontem...
Hoje, com o cabelo curto.
As fotos do antes e do depois, podem vê-las no sítio do costume: aqui.
Canela
quarta-feira, janeiro 10, 2007
terça-feira, janeiro 09, 2007
Futuro: “Modeling”
A tendência actual da ciência é “encaixar” todos os processos biológicos (e não só) em programas, que recorrem à linguagem matemática. A explicação é simples (como simples são muitas vezes estes programas): através de uma linguagem mais simples (matemática/algorítmica) conseguimos controlar e prever todo o processo.
Actualmente, já conseguimos detectar precocemente alterações proteicas, que podem conduzir ao aparecimento de determinadas doenças.
Sonhamos com a total “monitorização” do desenvolvimento embrionário e em “controlarmos” o envelhecimento humano.
Um dia, no futuro, talvez possamos ser “catalogados” como: “modeling generation”, ou talvez não.
Mas será que vamos conseguir controlar e prever tudo?
Será que, algum dia, vamos conseguir prever e controlar sentimentos e emoções?
Será que, as células neuronais estão para a biologia, como os números primos estão para a matemática?
Canela
segunda-feira, janeiro 08, 2007
Cirúrgico
Dar o mote ao amor. Glosar o tema
tantas vezes que assuste o pensamento.
Se for antigo, seja. Mas é belo
e como a arte: nem útil nem moral.
Que me interessa que seja por soneto
em vez de verso ou linha desvastada?
O soneto é antigo? Pois que seja:
também o mundo é e ainda existe.
Só não vejo vantagens pela rima.
Dir-me-ão que é limite: deixa ser.
Se me dobro demais por ser mulher
[esta rimou, mas foi só por acaso]
Se me dobro demais, dizia eu,
não consigo falar-me como devo,
ou seja, na mentira que é o verso,
ou seja, na mentira do que mostro.
E se é soneto coxo, não faz mal.
E se não têm tercetos, paciência:
dar o mote ao amor, glosar o tema,
e depois desviar. Isso é ciência!
Ana Luísa Amaral in “Soneto Científico a Fingir”
Canela
sexta-feira, janeiro 05, 2007
O comentário que passou a "post"
Existe, acaso, algo mais espectacular do que gente?
Pessoas são um presente.
Algumas tem um embrulho bonito,
como os presentes de Natal, Páscoa ou festa de aniversário.
Outras vêm em embalagem comum.
E há as que ficaram machucadas no correio...
De vez em quando uma Registrada.
São os presentes valiosos
Algumas pessoas trazem invólucros fáceis.
De outras, é dificílimo, quase impossível, tirar a embalagem.
É fita durex que não acaba mais...
Mas... a embalagem não é o presente.
E tantas pessoas se enganam, confundindo a embalagem com o presente.
Por que será que alguns presentes são complicados para a gente abrir?
Talvez porque dentro da bonita embalagem haja muito pouco valor.
E bastante vazio, bastante solidão. A decepção seria grande.
Também você amigo. Também eu.
Somos um presente para os outros.
Você para mim, eu para você.
Triste se formos apenas um presente-embalagem:
muito bem empacotado e quase nada, lá dentro!
Quando existe verdadeiro encontro com alguém,
no diálogo, na abertura, na fraternidade,
deixamos de ser mera embalagem e passamos à categoria de reais presentes.
Nos verdadeiros encontros humanos,
acontecem coisas muito comoventes e essenciais:
mutuamente nós vamos desembrulhando, desempacotando, revelando...
Você já experimentou essa imensa alegria da vida?
A alegria profunda que nasce da alma,
quando duas pessoas se comunicam virando um presente uma para outra?
Conteúdo interno é segredo,
para quem deseja tornar-se Presente aos irmãos de cada estrada
e não apenas embalagem...
Um presente assim não necessita de embalagem.
E a verdadeira alegria que a gente sente e não consegue descrever,
só nasce no verdadeiro encontro com alguém.
A gente abre, sente e agradece a Deus.
S. Sheider/H. Hartmann in "Pessoas que são um Presente"
Talvez por curiosidade sempre achei interessante desembrulhar presentes e nunca me desiludi com os que encontrei vazios. Mesmo estes, podem estar cheios de amor, às vezes é só uma questão de procurar melhor.
Felizmente, praticamente todos os outros presentes, com os quais me cruzei na vida (e são muitos), me têm dado um enorme prazer desembrulhar. São presentes lindos, recheados com histórias de vida lindas, são os meus presentes de amor.
Espero não estar a viver um sonho, se estiver espero que ninguém me desperte para a realidade.
Para que se faça saber: ADORO todos os meus doces presentes de amor, cada vez mais.
quarta-feira, janeiro 03, 2007
A propósito de…
Não sinto mágoa, porque, aprendi a respeitar o que os outros transportam para a vida, as suas angústias, os seus medos, os seus receios. Cada um de nós transporta consigo histórias passadas, que de uma ou de outra forma, nos limitam e nos entorpecem, perante situações novas e inesperadas. Cada um de nós constrói a sua própria muralha, mais alta ou mais baixa, mais forte ou mais fraca, mais sólida ou menos resistente, conforme as suas vivências passadas (de maior ou menor sofrimento).
Não sinto desilusão, porque aprendi a aceitar as pessoas, tal e qual, elas se me apresentam, sem nenhum outro tipo de expectativa, sem nenhum outro tipo de exigência, que não seja, a de que, não dissimulem as suas virtudes e os seus defeitos.
Ainda me resta muito para aprender na vida (espero).
No entanto, entristece-me verificar, que muitas vezes, na vã tentativa de nos defendermos, abrimos mais uma porta, para o nosso próprio sofrimento e fechamo-nos um pouco mais, para os outros.
Entristece-me verificar que somos as maiores vítimas dos nossos medos, dos nossos receios, das nossas angústias.
Bom seria, poder substituir o “fechar de portas e janelas” pelo “abrir de corações”.
Aprender a olhar os outros, a admira-los, a aceita-los como se apresentam, assim mesmo, sem nada exigir, sem nada esperar, sem nada temer.
Em suma: reescrever a vida numa versão diferente. Na versão que conjuga todas as formas e todos os tempos do verbo amar.
terça-feira, janeiro 02, 2007
Para começar…
Quando nas aulas se escreve poesia
É no jardim botânico que me entrego às aves,
Àquela árvore que com o tronco despido,
A fronte curvada e as folhas pendidas chora sobre o jardim.
Queres que te diga o que vejo?
Vejo a infância, as costas voltadas e o tronco soerguido
Numa forma tua de verticalidade…
Jorge Reis-Sá in “ O sabor das Tuas Lágrimas”
Quantas vezes, nas mesmas aulas, o meu espírito vagueou por entre os labirintos das japoneiras. E, quantas vezes, me foi tão difícil regressar…pudera eu escrever poesia.
Canela
segunda-feira, janeiro 01, 2007
Dedicado à Paz, ao Amor e sobretudo à Piro
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
Poema de Vinicius de Moraes, Música de Chico Buarque in "Valsinha", 1970