quarta-feira, março 28, 2007

No Templo da Deusa


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«Observa aqueles cisnes, em número de duas vezes seis, contentes por voarem em coluna: a ave de Júpiter, despenhando-se do alto éter, dispersava-os no vasto céu; agora, alinhados numa longa fila, eles parecem descer sobre a terra ou comtemplar de cima o sítio que vão escolher. Do mesmo modo que estas aves agrupadas folgam batendo as asas e escondem o céu que fazem ressoar com os seus cantos, assim as tuas naus e os teus jovens guerreiros ou estão já no porto ou nele entram a todo o pano. Despacha-te, pois, e segue o caminho que te conduz.»
Ela disse, e, virando a cabeça, fez brilhar o seu pescoço róseo; os seus cabelos perfumados de ambrósia exalaram um odor divino; as pregas do seu vestido baixaram até aos pés, e o seu andar revelou uma verdadeira deusa.
Tendo reconhecido sua mãe, ele perseguiu-a, fugídia, com estas palavras: «Por que razão também tu, cruel, logras tão amiúde o teu filho mediante imagens enganadoras? Porque me não é permitido pôr a minha mão na tua, ouvir-te falar-me e responder-te sem fingimentos?» Enquanto lhe faz estas censuras, ele dirige os seus passos para as muralhas. Vénus, durante a marcha deles, obscurece o ar à sua volta, e envolve-os num véu nebuloso, para que ninguém possa vê-los, tocar-lhes, suscitar-lhes algum atraso ou perguntar-lhes os motivos da sua vinda. Ela mesma, elevando-se nos ares, afasta-se na direcção de Pafo, e deleita-se a rever essa moradia querida onde, no templo que lhe é consagrado, o incenso de Sabá arde sobre cem altares perfumados por frescas grinaldas.»

Publicus Vergilius Maro in "A Eneida"

Fotografia de Vítor Maia ("O Sol dos Flamingos"), retirada do sítio "1000 imagens"

Canela

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