quarta-feira, fevereiro 14, 2007

A Insustentável Culpa dos Genes


A nossa capacidade de avaliar e reconhecer o que mais nos convém num parceiro sexual exige juízos complexos, mas nem sempre muito rigorosos ou acertados. E isto porque a nossa «inteligência do acasalamento» é decididamente complexa. Estamos sempre a trazer ao caso, ou seja, às nossas relações amorosas, tanto a razão calculista e fria como os nossos sonhos impossíveis e um conjunto de ideias preconcebidas. Mas na realidade todos eles servem um propósito.
Por exemplo, uma mulher é capaz de avaliar a personalidade do seu potencial namorado no primeiro encontro, mas ficará muito mais convencida do seu bom humor e do seu charme se o rapaz se mantiver próximo e assumir um compromisso.
Para conquistar uma mulher, o homem, por seu lado, exagerará em muito os seus rendimentos, o seu gosto pelo compromisso e até o seu amor a cãezinhos e gatos se pressentir, ou souber, que ela se baba com eles.

Decididamente, a «inteligência do acasalamento» dos homens e das mulheres ocorre por caminhos diferentes quando o que está em causa é a multiplicação da espécie.

Um homem encontra uma mulher. Conversam, ele convida-a para tomar um café, ela aceita, e conversam mais. Ao todo, passam juntos 45 minutos. Ela afasta-se, tem de chegar a horas ao emprego. Ele pega ao serviço pouco depois, e a primeira conversa que tem com o colega de gabinete é o relato do encontro mágico que teve naquela manhã. E diz-lhe: «Pronto, não foi nada de oficial, mas pedi-lhe para beber um café e ela aceitou. Desconfio que está completamente apaixonada por mim! Vê-se a milhas.». E lá segue para a sua secretária a assobiar.
Os homens têm uma forma muito elástica – e lisonjeadora para o seu ego – de avaliar a receptividade romântica de uma mulher. Pode chamar-se-lhe qualquer coisa como «vou tornar-te minha prisioneira», e é uma aproximação ao “flirt” que parece guiar muitos homens, a avaliar pela sua presunção constante do interesse sexual de uma mulher potencialmente conquistável.

Glenn Geher, professor de Psicologia da Universidade de Nova Iorque, que, com Miller, acaba de escrever um livro sobre a «inteligência do acasalamento», está mesmo a desenvolver um modelo matemático que pretende demonstrar aquilo que muitas mães e avozinhas disseram vezes sem conta às filhas e netas: «As mulheres que desconfiam das intenções de um homem estão bem mais seguras do que aquelas que empolam um primeiro encontro. Por outras palavras, uma rapariga que pensa qualquer coisa como «ele convidou-me para jantar, pagou o jantar, trouxe-me a casa, falou-me da vinda a Portugal do Rod Stewart e até me deu o número do seu telemóvel, deve estar mesmo interessado em mim», corre perigo.
E isto porque o professor Geher descobriu que as mulheres desconfiadas acabam, na prática, por ter maiores probabilidades de acabar por arranjar mesmo um homem honesto, comprometido e fiel. Talvez porque, sendo mais exigentes e chatas, conseguiram afastar os predadores, deixando apenas os resistentes convictos.
É um pouco como se as mulheres tivessem um radar para avaliar do interesse do outro sexo em si, para saber das suas intenções, que contudo funciona baseado em mecanismos absolutamente pessoais e intransmissíveis. E que acaba por seguir uma lógica darwiniana, porque, decididamente, é a sobrevivência dos nossos genes que está em causa.

Geher descobriu, por exemplo, que homens inteligentes têm mais tendência para exibir o preconceito rotulado como «ela deseja-me».

Os homens são excelentes juízes do que as mulheres querem num parceiro de longo prazo, mas já acertam menos quando se trata de ler a mente dos que os rodeiam noutras áreas da sua vida.

Ilusões positivas ajudam-nos a maravilhar-nos com o nosso parceiro. É ponto assente. Mas há um tipo de «inteligência do acasalamento» que é ainda mais paradoxal. Enganar-se a si próprio atenua os factores mais intragáveis da vida em comunhão, fazendo prevalecer uma estratégia inteligente. No que respeita a defender uma relação, somos advogados que rotineiramente manipulam – até mesmo mentindo desalmadamente quando a necessidade assim os obriga.

Manter uma relação romântica e gratificante ao longo do tempo é a parte mais difícil de todo este jogo.

Ninguém é imune à rotina.

O que é que isto quer dizer?
Que, tal como o oxigénio na cabina do avião nos permite sobrevoar o mundo, os casais têm de introduzir novidades numa relação de longo termo, de modo a simular o estado inicial da paixão.

A «inteligência do acasalamento» é talvez uma das capacidades mais importantes na vida, sendo cultivada durante o liceu.

«Há quarenta anos», afirma Miller, «uma rapariga provavelmente entraria no mundo do trabalho aos 18 anos, passando a receber muita atenção no seu emprego relativamente a uma “velha” de 28 anos. Agora entra na universidade e ainda socializa e compete com um grupo de raparigas tão bonitas e jovens quanto ela, mesmo que sejam suas professoras!».

Miller concorda: «Ajudaria muito se disséssemos aos rapazes “o vosso sentido de humor e capacidade de ser interessante é muito importante”».

Kaja Perina (Psychology Today/Tribune Media) in “A lógica insensata do amor”
Fotografia de António Amen ("WC Galego"), retirada do sítio 1000 imagens

Canela

6 comentários:

Anónimo disse...

Interessante!...
Piro

Anónimo disse...

Reparas-te nos símbolos das portas do WC? Estão, absolutamente, divinos!
Virados para o sítio certo!
Os homens, de facto, deviam estar virados para baixo!

Beijocas

Anónimo disse...

"Ilusões positivas ajudam-nos a maravilhar-nos com o nosso parceiro. É ponto assente. Mas há um tipo de «inteligência do acasalamento» que é ainda mais paradoxal. Enganar-se a si próprio atenua os factores mais intragáveis da vida em comunhão, fazendo prevalecer uma estratégia inteligente."

Isto descreve o que aconteceu comigo: Vivi na ilusão de que o meu parceiro era maravilhoso. E enganei-me a mim própria relativamente ao que me desagradava na relacão... Mas não concordo que essa seja uma estrategia inteligente, é uma estrategia estúpida.
Ninguem pode viver numa ilusão e enganar-se a si próprio não me parece muito saudável.
A(breu)

Anónimo disse...

Toda a gente vive na ilusão de alguma coisa, sobretudo no carácter eterno da vida e de algumas das suas fracções. É essa ilusão que nos mantém vivos. Acreditar em nós e nos outros é fantástico. Acreditar que os outros vão mudar pode ser, e é na maioria dos casos, burrice. Como alguém me disse um dia: “Só muda quem quer”.
Tu nunca quiseste que nada mudasse e por isso foste imensamente feliz. É isso que tens agora, um pedaço (grande) de vida de enorme felicidade. Tudo isto é agora o teu ponto de partida.
Diz lá agora que não estás em vantagem?!
Beijinhos Linda

Anónimo disse...

Sim, como diz a cancão "é sempre mais feliz quem mais amou e quem mais amou fui eu". Só é pena que também sofra mais quem mais amou...

Anónimo disse...

Olha lá! Que espécie de “amorfotómetro” tens tu para medir a quantidade de amor?!
Quem te disse que foste tu que amas-te mais, enquanto houve muito amor?!
Com que aparelho se mede a dor?!
Quem te disse que, quem sofre mais és tu?!
Vou dizer-te aquilo que alguém me disse há uns anos atrás: “Hoje, saiu-te a sorte grande e só tu é que não vês”! Hoje vejo!
Ou sejas não te detenhas no que dói, mas no que te deixa feliz.

Beijoquinhas