quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Diluições

… A luz aflorava qualquer coisa verde no canto da janela, qualquer coisa que se transformava numa esmeralda, numa gruta de puro verde, um fruto sem sementes.
… À medida que a luz aumentava, abria-se aqui e ali um botão, soltando flores cheias de pequenas veias verdes ainda palpitantes, como se o esforço do desabrochar as tivesse transtornado. Ao baterem nas paredes brancas as suas frágeis corolas faziam um vago carrilhão. Tudo se fundia e perdia docemente a sua forma. Dir-se-ia que o prato de porcelana se diluía e a faca de aço se tornava líquida. E durante todo esse tempo, as ondas desfaziam-se nos rochedos, numa vibração surda, como troncos de árvores tombando na areia.

Virginia Woolf in "As Ondas"
Fotografia de autor desconhecido

Canela

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