quarta-feira, fevereiro 28, 2007

De Canela e Jasmim

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.

Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

António Ramos Rosa in “Uma Voz na Pedra”
Vieira da Silva in "Porta do Sol"

Hoje só a poesia caberia aqui, a explicação é simples, basta olhar para 2007.

Canela

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Nunca…

…deveríamos despertar na melhor etapa de um sonho.

Canela

Não perguntes!

E nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa.

Mário Quintana in "O Assunto"

Canela

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Perspectivas

Fotografia de Judith Tomaz, retirada do sítio "1000 imagens"


Fotografia de Anderson Fetter ("Poço Iniciático"), retirada do sítio "1000 imagens"

(Quinta da Regaleira, Sintra)

Qual era, mesmo, a tua perspectiva?!

Percebes agora porque é que, às vezes, são necessários os desenhos?!

Canela

Emoções


É contra mim que luto
Não tenho outro inimigo.
O que penso
O que sinto
O que digo
E o que faço
É que pede castigo
E desespera a lança no meu braço
Absurda aliança
De criança
E de adulto.
O que sou é um insulto
Ao que não sou
E combato esse vulto
Que à traição me invadiu e me ocupou
Infeliz com loucura e sem loucura,
Peco à vida outra vida, outra aventura,
Outro incerto destino.
Não me dou por vencido
Nem convencido
E agrido em mim o homem e o menino.


Miguel Torga in "Guerra Civil"
Fotografia de João Castela Cravo ("O Rei da Ericeira"), retirada do sítio "1000 imagens".

Canela

domingo, fevereiro 25, 2007

Óscares 2007

Para Melhor Filme:

Babel
Um filme inquietante, sobre o mundo dos afectos.
Enganei-me, não ganhou, mas continuo a pensar o mesmo - é um excelente filme.


Canela

Momento de Publicidade

...Profundo, Sensual, Intenso...

Nespresso. What else?
Cinquenta e um segundos de puro pecado!

Canela

Just for let you know


James Taylor in "You've got a friend"

Canela

sábado, fevereiro 24, 2007

Dias

Dias de palavras sentidas,
Dias de palavras vividas,
Dias de um Sol profundo,
Dias de chuva carmim,
Dias de inebriante canela,
Dias de indiluível jasmim,
Dias assim…de uma estranha preguiça!



Fotografia de autor desconhecido
Canela

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Dedicado

No meio de um milhão de rostos reconheço os dos meus amigos. Dos que sofrem, dos que lutam, dos que amam, dos incessantes amigos.
Hoje lembrei-me da música que começamos, imediatamente, a cantar assim que o J. pega na viola.

Hoje, quando um coração estremeceu, lembrei-me de todos os meus amigos. Dizem que é um sentimento chamado – saudade.




Canela

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

I love U2

But…I’m (not) Madonna!


Robbie Williams in "She's Madonna"

Canela

Hoje riram-se

Quando lhes disse, que me começa a assustar a ideia, de um dia, me poderem vir a ver… por dentro!

Canela

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Reflexos


Ajoelhada em frente do espelho, junto da cama, olhou para fora e observou de novo que já era dia e que ia voltar para casa.
Shimamura lançou um olhar à jovem, mas, num gesto brusco, deixou cair a cabeça sobre a almofada: toda aquela brancura existente na profundidade do espelho era a neve, e, no meio dela, ardia o rosto vermelho da mulher. A beleza desse contraste era de uma pureza inefável, de uma intensidade quase insustentável, de tal modo excitante e expressiva.
Shimamura perguntou a si próprio se o Sol teria já nascido, pois a neve tomara de súbito um esplendor ainda mais brilhante no espelho: dir-se-ia um incêndio no gelo. O próprio negro dos cabelos da jovem, em contraluz, parecia menos profundo, secretamente habitado por um jogo de sombras de tom avermehado.


Yasunari Kawabata in “Terra de Neve”
Fotografia de Kunstfotografie ("La tentation vermeille")


Canela

Há dias em que acordo a pensar…

Abençoada novela! Não estou a falar das telenovelas, porque, essas, definitivamente, não vejo. Estou a falar da novela Sonae/Telecom. Fantástica. Nós assistimos e pensamos: “Upa"! "Upa"!

Canela

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Quando o coração nos prega uma partida

“Comboio cuja corda” não se partiu, mas foi enviando sinais para o deterem, para o agarrarem à gare. Um comboio que nunca teve ânsia de partir, mas um desejo desesperado de ficar.
Momentos de rápida reavaliação da vida. Momentos de inversão de prioridades (todas, ou quase todas).
Outro comboio vai partir de Aveiro em direcção ao Porto, para mais uma partida Porto-Chelsea. E, nesta partida, o jogo deveria ser para ganhar, porque outro comboio se deteve, com uma vontade incontrolável de ver jogar.
Na gare vai apertar a saudade do sorriso diário e do “Bom dia” de duas pessoas que nunca gastaram muito as palavras. De duas pessoas, que por serem tão parecidas, descobriram que o melhor de cada partida é deixar fluir os sentimentos, sem os justificar, sem lhes atribuir um nome, sem os prender a uma linha, deixando-os apenas partir.
Nos escassos momentos de diálogo encontraram uma forma de descodificar as palavras essenciais, as que os outros nunca perceberam.
Amanhã nunca foi, não é, nem nunca será o dia da partida.
Amanhã o jogo deveria ser para ganhar.

Fotografia retirada do sítio Worth 1000.com

Canela

Feliz Aniversário C.

Com a proximidade do dia, a memória vai-se organizando, abrindo as gavetas. E das gavetas vão saltando as recordações dos inconsequentes e doces dias.
A primeira gaveta transporta aquela história, de um dia, naquela aula, quando se fez noite e do fundo da sala se ouviu a sonora palavra de ordem: “Ao ataque…”. A consequência foi a gargalhada geral.
A segunda gaveta transporta outra história, de uma outra aula, em que, voaram tarsos e metatarsos e, em que, no final, a professora ainda te pediu desculpa. Só tu!
A terceira gaveta transporta todas as histórias de fins-de-semana e férias passadas no Gerês e no recôndito daquela serra na casa do tio pagero do F.
Quando a memória, se azafama a guardar novamente todas as histórias, vai percebendo que uma firme barreira de sólidas estruturas – a amizade, destruiu uma forte barreira sem bases – a competição desmedida. E assim, sem nunca nos preocuparmos com as subjectivas avaliações, construímos um lugar, com o que de melhor tem a vida.

Que tenhas um excelente aniversário.

Canela

Na Fantasia de um Sonho Marginal

Da margem do sonho
e do outro lado do mar
alguém me estremece
sem me alcançar.

Um bafo de desejo
chega, vago, até mim.
Perfume delido
de impossível jasmim.

É ele que me sonha?
Sou eu a sonhar?
Sabê-lo seria
desfazer, no vento,
tranças de luar.

Nuvens,
barcos,
espumas
desmancham-se na noite.

E a vida lateja, longe,
num outro lugar.


Luísa Dacosta in “Chamamento”

Fotografia de autor desconhecido

Canela

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Waiting for Mr. Postman

Fotografia retirada daqui.


Carpenters in "Please Mr. Postman"

Canela

domingo, fevereiro 18, 2007

A Máscara

O poema, essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face.
Mário Quintana in "O Poema"
Fotografia do Careto de Podence, retirada daqui.
Carnaval de Podence (Macedo de Cavaleiros) toda a história aqui.

Canela

Feliz Ano do Porco

(Em)Balanço


Jamie Cullum in "Next Year, Baby"

Canela

sábado, fevereiro 17, 2007

Espaço de absoluto Amor

Espaço que me cativaFotografia de Miguel ("Entardecer junto ao porto de Leixões"), retirada do sítio 1000 imagens


Espaço onde me deixo
Fotografia de Miguel ("Matosinhos ao entardecer"), retirada do sítio 1000 imagens


Espaço de onde nunca saio
Fotografia de Miguel ("Pôr do Sol em Matosinhos"), retirada do sítio 1000 imagens


Espaço com aroma de canela perfumado com jasmimFotografia de Miguel ("Pôr do Sol em Matosinhos"), retirada do sítio 1000 imagens



Canela

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

E Pronto!

Já tenho um brinquedo novo!
É lindo.
É fabricado em carbono, o que, o torna muito leve.
Tem um monitor de 15,4 pol., com alta definição (1280 mega “pixeis”).
Todas as outras características, como: processador, disco rígido, placa gráfica, "bluetooth" etc. é só imaginar!
E quem foi que o escolheu?
Quem foi que fez o estudo de mercado?
Quem foi que o encontrou a um preço inacreditável?
Quem foi que o encomendou?
Quem foi que se ofereceu para o ir buscar (devido à minha falta de tempo!)?
Só mesmo um amigo Doce, Lindo e daqueles tão fantásticos, tão fantásticos que são jóias raras.
Canela

Feeling Lost

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.


Elizabeth Bishop in “One Art”
Falésia Sombria, fotografia de autor desconhecido

Canela

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Espaços onde me perco







Espaços com vida.

Espaços da vida.

Espaços onde apetece viver.







Livraria Lello no Porto

Fotografia de Miguel ("Espaços de Cultura"), retirada do sítio 1000 imagens

Canela

Dedicado às Mulheres

Moça morena e ágil, o sol que faz as frutas,
o que dilata os trigos, o que retorce as algas,
fez o teu corpo alegre, os luminosos olhos
e essa boca que tem o sorriso da água.

Um sol negro e ansioso enrola-se-te nos fios
da negra cabeleira, quando estendes os braços.
Tu brincas com o sol como se fosse um esteiro
e ele deixa-te nos olhos dois escuros remansos.

Moça morena e ágil, nada de ti me abeira.
Tudo de ti me afasta, como do meio-dia.
Tu és a delirante juventude da abelha
A embriaguez da onda, a força que há na espiga.

Porém meu coração sombrio te procura
e eu amo o teu corpo alegre, a tua voz solta e fina.
Borboleta morena, suave e definitiva
como o trigal e o sol, como a papoila e a água.

Pablo Neruda in “Moça morena e ágil…”, tradução Assis Pacheco
Fotografia de Armando Jorge ("A sopa dos pobres"), retirada do sítio 1000 imagens

Canela

A Música

Que à uns anos deu filme.


Joe Cocker in "You can leave your hat on"

Canela

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Means

— Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia.
— Mas eu estou só esperando que apareça: O Significado do Significado do Significado.

Mário Quintana in "Leituras"

Canela

All we need is Love



The Beatles in "All you need is love"

Canela

A Country Bridge


Fotografia da Ponte D. Luís no Porto, de Miguel ("Orgulho em ser Tripeiro"), retirada do sítio 1000 imagens

Fotografia da Ponte Vasco da Gama em Lisboa, autor desconhecido

Fotografia da Ponte da Arrábida no Porto, autor desconhecido


Canela

A Insustentável Culpa dos Genes


A nossa capacidade de avaliar e reconhecer o que mais nos convém num parceiro sexual exige juízos complexos, mas nem sempre muito rigorosos ou acertados. E isto porque a nossa «inteligência do acasalamento» é decididamente complexa. Estamos sempre a trazer ao caso, ou seja, às nossas relações amorosas, tanto a razão calculista e fria como os nossos sonhos impossíveis e um conjunto de ideias preconcebidas. Mas na realidade todos eles servem um propósito.
Por exemplo, uma mulher é capaz de avaliar a personalidade do seu potencial namorado no primeiro encontro, mas ficará muito mais convencida do seu bom humor e do seu charme se o rapaz se mantiver próximo e assumir um compromisso.
Para conquistar uma mulher, o homem, por seu lado, exagerará em muito os seus rendimentos, o seu gosto pelo compromisso e até o seu amor a cãezinhos e gatos se pressentir, ou souber, que ela se baba com eles.

Decididamente, a «inteligência do acasalamento» dos homens e das mulheres ocorre por caminhos diferentes quando o que está em causa é a multiplicação da espécie.

Um homem encontra uma mulher. Conversam, ele convida-a para tomar um café, ela aceita, e conversam mais. Ao todo, passam juntos 45 minutos. Ela afasta-se, tem de chegar a horas ao emprego. Ele pega ao serviço pouco depois, e a primeira conversa que tem com o colega de gabinete é o relato do encontro mágico que teve naquela manhã. E diz-lhe: «Pronto, não foi nada de oficial, mas pedi-lhe para beber um café e ela aceitou. Desconfio que está completamente apaixonada por mim! Vê-se a milhas.». E lá segue para a sua secretária a assobiar.
Os homens têm uma forma muito elástica – e lisonjeadora para o seu ego – de avaliar a receptividade romântica de uma mulher. Pode chamar-se-lhe qualquer coisa como «vou tornar-te minha prisioneira», e é uma aproximação ao “flirt” que parece guiar muitos homens, a avaliar pela sua presunção constante do interesse sexual de uma mulher potencialmente conquistável.

Glenn Geher, professor de Psicologia da Universidade de Nova Iorque, que, com Miller, acaba de escrever um livro sobre a «inteligência do acasalamento», está mesmo a desenvolver um modelo matemático que pretende demonstrar aquilo que muitas mães e avozinhas disseram vezes sem conta às filhas e netas: «As mulheres que desconfiam das intenções de um homem estão bem mais seguras do que aquelas que empolam um primeiro encontro. Por outras palavras, uma rapariga que pensa qualquer coisa como «ele convidou-me para jantar, pagou o jantar, trouxe-me a casa, falou-me da vinda a Portugal do Rod Stewart e até me deu o número do seu telemóvel, deve estar mesmo interessado em mim», corre perigo.
E isto porque o professor Geher descobriu que as mulheres desconfiadas acabam, na prática, por ter maiores probabilidades de acabar por arranjar mesmo um homem honesto, comprometido e fiel. Talvez porque, sendo mais exigentes e chatas, conseguiram afastar os predadores, deixando apenas os resistentes convictos.
É um pouco como se as mulheres tivessem um radar para avaliar do interesse do outro sexo em si, para saber das suas intenções, que contudo funciona baseado em mecanismos absolutamente pessoais e intransmissíveis. E que acaba por seguir uma lógica darwiniana, porque, decididamente, é a sobrevivência dos nossos genes que está em causa.

Geher descobriu, por exemplo, que homens inteligentes têm mais tendência para exibir o preconceito rotulado como «ela deseja-me».

Os homens são excelentes juízes do que as mulheres querem num parceiro de longo prazo, mas já acertam menos quando se trata de ler a mente dos que os rodeiam noutras áreas da sua vida.

Ilusões positivas ajudam-nos a maravilhar-nos com o nosso parceiro. É ponto assente. Mas há um tipo de «inteligência do acasalamento» que é ainda mais paradoxal. Enganar-se a si próprio atenua os factores mais intragáveis da vida em comunhão, fazendo prevalecer uma estratégia inteligente. No que respeita a defender uma relação, somos advogados que rotineiramente manipulam – até mesmo mentindo desalmadamente quando a necessidade assim os obriga.

Manter uma relação romântica e gratificante ao longo do tempo é a parte mais difícil de todo este jogo.

Ninguém é imune à rotina.

O que é que isto quer dizer?
Que, tal como o oxigénio na cabina do avião nos permite sobrevoar o mundo, os casais têm de introduzir novidades numa relação de longo termo, de modo a simular o estado inicial da paixão.

A «inteligência do acasalamento» é talvez uma das capacidades mais importantes na vida, sendo cultivada durante o liceu.

«Há quarenta anos», afirma Miller, «uma rapariga provavelmente entraria no mundo do trabalho aos 18 anos, passando a receber muita atenção no seu emprego relativamente a uma “velha” de 28 anos. Agora entra na universidade e ainda socializa e compete com um grupo de raparigas tão bonitas e jovens quanto ela, mesmo que sejam suas professoras!».

Miller concorda: «Ajudaria muito se disséssemos aos rapazes “o vosso sentido de humor e capacidade de ser interessante é muito importante”».

Kaja Perina (Psychology Today/Tribune Media) in “A lógica insensata do amor”
Fotografia de António Amen ("WC Galego"), retirada do sítio 1000 imagens

Canela

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

A Seaside Country


Praia de São Jacinto, fotografia de autor desconhecido


Ilha do Pico, fotografia de autor desconhecido

Portinho da Arrábida, fotografia de autor desconhecido



Canela

A lógica do tacão alto

os sumérios eram sumários
e por isso foram sumírios
daí vem que foram semírios
mírios de se ou de si

os sumírios eram sumários sendo sumério
e daí vem que foram sumiros
sumaros e sumêros

os sumários eram suma dos
é daí que vem o sumo
a soma e a suma-a-uma

os sumórios eram sumêdos
porque eram semudos
e mudos de se ou de si
eram sumúrios

os sumúrios eram semílicos
simólicos e simulados
daí vem que amaram a sêmula
a súmula
e o tacão alto.

Ana Hatherly in "Os sumérios eram sumários"

Canela

E depois há os que se mantêm fiéis à imagem



Canela

domingo, fevereiro 11, 2007

O filme...

Sweet and Sour



Como as avaliações superficiais podem conduzir a tantas ideias erróneas…

Canela

Desmistificar

...
- Mas o que é que se há-de fazer para os interessar de novo por qualquer coisa? – disse Lil.
- Eu faço o melhor que sei – disse Folavril. Você também.
Somos bonitas, tentamos deixá-los livres, tentamos ser tão burras quanto o necessário pois é necessário que uma mulher seja burra – é da tradição – e isso é difícil como tudo, abandonamos-lhes os nossos corpos e tomamos-lhes os deles; pelo menos somos honestas e eles vão-se embora porque têm medo.
- E nem sequer é de nós que têm medo – disse Lil.
- Isso seria bom de mais – disse Folavril. – Até o medo que sentem, é preciso que venha deles.

- Porque é que nós resistimos melhor? – perguntou Lil.
- Porque temos um preconceito contra nós próprias – disse Folavril – e isso dá a cada uma de nós a força de um todo. E eles acham que somos complicadas devido a sermos esse todo. É aquilo que eu dizia.
- Então, eles são burros – disse Lil.
- Não os generalize a eles também – disse Folavril. – Isso torná-los-á igualmente complicados. E nem todos o merecem. Nunca se deve pensar «os homens». Deve pensar-se «Lazúli» ou «Wolf». Eles sim, pensam sempre «as mulheres» e é isso que os perde.
- Onde é que foi pescar tudo isso? – perguntou Lil, atónita.
- Não sei – disse Folavril. – Ouço-os. De resto, o que tenho estado a dizer deve ser idiota.
- Pode ser – disse Lil -, mas em todo caso é claro.

Boris Vian in "Erva Vermelha"

Canela

Paixões

O arroz de pato da minha mamã, absolutamente delicioso e inigualável.
Esse sorriso enorme de orelha a orelha é teu curiosa-Linda?!

Canela

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Two Sides*



*The Carpenters in "Two Sides"

Canela

Triologia: "Faz de Conta"

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa in “Autopsicografia”
Fotografia João Parassu (Abstracto), retirada do sítio "1000 imagens"

Canela

Triologia: Fingimentos Poéticos*

"finge tão completamente"

Faz-me falta a tristeza
para o verso:
falta feroz de amante,
ausência provocando dor maior.

Tristeza genuína, original,
a rebentar entranhas e navios
sem mar.
Tristeza redundando em mais
tristeza, desaguando em métrica
de cor.

Recorro-me a jornal, mas é
em vão. A livros russos (largos
e sombrios).
Em provocado rio de depressão,
nem zepellin: balão
a ervas rente.

Um arrastão sonhando-se
navio.

Só se for o que diz o que
deveras sente.
A sério: o Zepellin.
Mas coração:
combóio cuja corda
se partiu.

*Ana Luísa Amaral in "Fingimentos Poéticos"
Fotografia João Parassu (Abstracto), retirada do sítio "1000 imagens"

Canela

Triologia: Amor distorcido

O perigo ronda o desavisado, o imprudente e o narcisista.
Nas linhas que não lhe são dirigidas.
Nos poemas que não lhe são dedicados.
Nas imagens em que se vê reflectido.

Quanto engano pode transportar um espelho?
Quantos “perigos” transporta uma mulher?
Quantas teorias são construídas à volta de uma
Ilusão?

Assim vive Narciso, espelhando-se, admirando-se,
acreditando que a imagem que vê reflectida,
transporta o amor de uma mulher!

A visão das imagens ocorre sempre distorcida.
Mas nisso, Narciso, não quer acreditar!
Dentro do ilusório mundo, Narciso
ama e julga-se amado.



Fotografia João Parassu (Abstracto), retirada do sítio "1000 imagens"

Canela

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Ziguezagueante





Olho-te pelo reflexo
Do vidro
E o coração da noite











E o meu desejo de ti
São lágrimas por dentro,
Tão doidas e fundas
Que se não fosse:
















o tempo de viver;
e a gente em social desencontrado;
e se tivesse a força;
e a janela do meu lado fosse alta e oportuna,








invadia de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti.



Ana Luísa Amaral in "Reflexos"
Fotografias de João Parassu (Abstracto), retiradas do sítio "1000 imagens"


Canela

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O que sei?


Fotografia de João Castela Cravo ("Contra a guerra, a luz"), retirada do sítio "1000 imagens"


Rigorosamente?!
Apenas o que não quero.
Tudo o resto é mutável.


Canela

O que os Amigos fazem por nós

Hoje um amigo descobriu que posso ser caracterizada por uma árvore. Agora, deleitem-se:

ÁRVORE DE AVELÃ (O Extraordinário)
É uma pessoa encantadora, não pede nada, muito compreensiva, sabe como impressionar as pessoas, é uma pessoa segura, mente aberta, positivista, activa na luta por causas sociais, popular, temperamental e amante caprichoso, sensual e excessivamente apaixonado, belo, sensível, honesto e companheiro tolerante, com um sentido de justiça muito preciso.


Só mesmo os Amigos para nos enviarem, ao fim do dia, algo tão doce. Mesmo que não seja verdade, eu acredito! Obrigada.

Canela

Tonight I Can Write*


Tonight I can write the saddest lines.

Write, for example, ”The night is starry
and the stars are blue and shiver in the distance”.

The night wind revolves in the sky and sings.

Tonight I can write the saddest lines.
I loved her, and sometimes she loved me too.

Through nights like this one I held her in my arms.
I kissed her again and again under the endless sky.

She loved me, sometimes I loved her too.
How could one not have loved her great still eyes.

Tonight I can write the saddest lines.
To think that I do not have her. To feel that I have lost her.

To hear the immense night, still more immense without her.
And the verse falls to the soul like dew to the pasture.

What does it matter that my love could not keep her.
The night is starry and she is not with me.

This is all. In the distance someone is singing. In the distance.
My soul is not satisfied that it has lost her.

My sight tries to find her as though to bring her closer.
My heart looks for her, and she is not with me.

The same night whitening the same trees.
We, of that time, are no longer the same.

I no longer love her, that's certain, but how I loved her.
My voice tried to find the wind to touch her hearing.

Another's. She will be another's. As she was before my kisses.
Her voice, her bright body. Her infinite eyes.

I no longer love her, that's certain, but maybe I love her.
Love is so short, forgetting is so long.

Because through nights like this one I held her in my arms
my soul is not satisfied that it has lost her.

Though this be the last pain that she makes me suffer
and these the last verses that I write for her.

*Pablo Neruda in "Tonight I Can Write", traduzido por W. S. Merwin e declamado por Andy Garcia

Canela

domingo, fevereiro 04, 2007

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Diluições

… A luz aflorava qualquer coisa verde no canto da janela, qualquer coisa que se transformava numa esmeralda, numa gruta de puro verde, um fruto sem sementes.
… À medida que a luz aumentava, abria-se aqui e ali um botão, soltando flores cheias de pequenas veias verdes ainda palpitantes, como se o esforço do desabrochar as tivesse transtornado. Ao baterem nas paredes brancas as suas frágeis corolas faziam um vago carrilhão. Tudo se fundia e perdia docemente a sua forma. Dir-se-ia que o prato de porcelana se diluía e a faca de aço se tornava líquida. E durante todo esse tempo, as ondas desfaziam-se nos rochedos, numa vibração surda, como troncos de árvores tombando na areia.

Virginia Woolf in "As Ondas"
Fotografia de autor desconhecido

Canela

Hoje

O dia fez-se radiante e quente e eu sinto-me assim…
...feliz, muito feliz.
A verdade é que, mais uma batalha foi superada e a guerra faz-se assim, a travar pequenas-grandes batalhas.

Fotografia de Jaime Silva, retirada do sítio "1000 imagens".

Canela