sexta-feira, outubro 19, 2007

Encontros Perfeitos



Canela

O que me deixa baralhada

Num anúncio de um estabelecimento comercial lia-se e deduzo que ainda se leia:

Executam-se todos os tipos de receituários médicos. Aguardamos a nova colecção.

A mim apeteceu-me ligar para a Farmácia e perguntar se vai sair uma nova colecção de manipulados na Farmacopeia Portuguesa.


Canela

quinta-feira, outubro 18, 2007

Perdi a cabeça…

Não posso sair de casa de mal com a vida, porque só faço asneiras. Hoje, entrei na primeira livraria que me apareceu no caminho e comprei 1 (um) livro por 100 Euros (cem Euros). Não, não é engano, a leitura está absolutamente correcta: um livro = 100 Euros. Claro que sai a pensar, ensandeci de vez, será que há alguém que me interne. Ainda se fosse uma obra literária para a vida, daquelas que se eternizam pela escrita genial dos seus autores, ainda se fosse uma colectânea de poesia. Não, não, e não. É uma obra literária que, segundo as minhas previsões, nos próximos cinco anos estará desactualizada, se não for antes! É uma obra que compila (sempre achei este termo curioso!) um conjunto de trabalhos de um bando de desgraçados que, como eu escrevem de graça. É aqui que o termo “compila” se aplica na verdadeira ascensão da sua fonética, sem dúvida que me faz sentir “compilada” a torto e a direito. Senão vejamos, andamos nós (os desgraçados) a trabalhar como loucos para publicarmos uns papers, que ainda têm de ser submetidos a uns refrees que estão sempre a ver onde nos podem “compilar”, e, se o artigo é bom, e se nós até já somos conhecidos no “mercado” pelo número e qualidade de artigos que publicamos, os gajos ainda nos pegam pelo inglês. Aqui podemos sempre aplicar a expressão de um colega meu, numa situação semelhante: I like to innovate. E que tal, pagarem pela inovação? Não, não recebemos um mísero cêntimo e ficamos hiper-felizes quando o artigo vem para trás com uma série de correcções e com uma chamada de atenção do tipo: Olhe, sabe, aqui na “casa” também temos gente que escreveu sobre algo parecido, e que tal escrever essa referência no paper. Lá voltamos nós a sentirmo-nos “compilados”, mas como a revista tem um índice de impacto elevado, só nos resta escrever a referência. Finalmente (o que pode significar meses de espera e angústia), recebemos o veredicto final: aceite para publicação e não cabemos em nós de contentes. Alguém nos paga alguma coisa? Jamais. A nossa felicidade diminui? Não. Como os bloguistas passamos a consultar quase diariamente o sitemeter das citações dos nossos papers e a nossas conversas diárias vão sempre dar ao mesmo: Então já mais alguém citou o teu artigo X? Ora, façam-me um favor: poupem-me. Não cobramos nada pelos papers, nem pelos capítulos de livros dos que nos compilam e depois alguém nos cobra 100 Euros por um livro de compilações e nós pagamos. Não sei, mas estava aqui a pensar se não deveríamos modificar estas situações.


Canela (A subversiva)

Alguma coisa, para me ouvires sonhar


Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha,
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva duma estrada

alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler

alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-Lo passar na direcção dos rios

alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar




António José Forte in “Poema”

Pintura de Marcelino Vespeira (“Heteroformal”), óleo sobre tela


Alguma coisa que me traga a paz que não consigo arrancar nos interstícios do "Eu". Um estímulo forte direccionado ao ponto da auto-estima. Hoje, não vai lá com massagem, Mestre!
Preciso tanto de poesia e cor. Sinto-me irreversivelmente friável.


Canela

quarta-feira, outubro 17, 2007

Be Dangerous



You are always dangerous if you are Honest

Canela

Perversão é...

Desenharmos o perfil alheio à nossa imagem e semelhança.
O que, francamente, me agrada em toda esta insanidade é a existência de um certo auto-conhecimento.


Canela

Este Blog…


Levanta-se contra a Pobreza e a Exclusão Social.



Fotografia de Nuno Lobito (“My Nu”), retirada do sítio “Olhares”

Canela

terça-feira, outubro 16, 2007

As coisas que só me acontecem a mim…

Ontem, ao final da tarde (para ser mais precisa inicio da noite), após um dia extenuante de trabalho, decidi parar na padaria para comprar pão (finalmente a gastroenterite vai cedendo e começo a sentir fome). Entro e peço dois pães-de-leite. Mal acabei de fazer o pedido pensei – porquê pão-de-leite? Há quanto tempo não como pão-de-leite? Porquê que o meu cérebro controla a minha vontade e a minha boca? Não teria sido mais simples pedir só pão? Não será melhor rectificar o pedido? Não, não era melhor, porque já me estava a ser entregue o saco com o pão. Paguei os dois pães-de-leite. O senhor que me atendeu olhou-me fixamente e abriu um sorriso de orelha a orelha. Deve ter percebido o meu dilema! – pensei.
Sai, ainda, a pensar que não posso deixar que uma parte de mim tome controlo do todo.
Chego a casa, abro a saca do pão e o que vejo?! Dois pães-de-leite e três pães normais!
Sinceramente, assusta-me que alguém me veja à transparência melhor do que eu!
Claro que comi um pão normal e adormeci tranquilamente.


P.S. - Obrigada pelos três pães oferecidos!


Canela

First Question…

What are days for?
Days are where we live.
They come, they wake us
Time and time over.
They are to be happy in:
Where can we live but days?

Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor
In their long coats
Running over the fields.


Philip Larkin in “Days”


Canela

segunda-feira, outubro 15, 2007

Serás... ?




Serás capaz
de responder a tudo o que pergunto?


Alexandre O'Neill in "Poesias Completas"


Canela

domingo, outubro 14, 2007

A eterna Cruz dos teus (a)braços

(…)
Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
e esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.
(…)


Vinicius de Moraes in “O Haver”


Canela

13 de Outubro

Ontem, deixar passar “em branco”, uma data que ficou e ficará para sempre registada na minha vida. Culpa da montanha de trabalho, na qual estou atulhada, culpa da minha gastroenterite vírica que entretanto “arrasou” com o meu sistema imunitário e como diz o povo: um mal nunca vem só.
Mas os sonhos não se deixam esquecer, nem mesmo pelos mais distraídos como eu.
Nem sei se foi um sonho, ou se não passou de uma vaga ideia, lembrou-me que, alguns anos atrás, foi algo que me ocorreu. Seria magnífico – pensei, mas rapidamente tentei dissipar o devaneio por me parecer absolutamente impossível. Sonha, sonha! Quanto custa sonhar? Afinal não custava nada, além de que, o sonho pressagiava um futuro, no qual eu não acreditava.
Os anos foram passando, e no dia que eu mais precisava de acreditar em alguma coisa, surgiu a verdade que eu conhecia de um sonho dissipado. Ora, para que tudo fizesse sentido, se nunca acreditei no sonho, não iria nessa altura acreditar na verdade. E a minha postura de “defesa”, foi “faz-de-conta”. Isto já passa! Porque é que tenho de ser eu a escolhida?! Nunca percebi, porque não queria perceber. Até ao dia em que assinamos o contrato (eu e o sonho). O carácter efémero da vida, ensinou-me que até como os sonhos devemos estabelecer contratos a termo. Depois da assinatura sai apressadamente, e quando de repente no último lance de escadas dou de caras com a procissão do adeus à Virgem em Fátima, parei, e de imediato percebi, o que até ali não quis entender. Neste sonho estão duas das pessoas que mais admiro dentro do cristianismo, uma pela abnegação e a outra pelo inconformismo, a Virgem Maria e S. João Baptista, respectivamente.


Canela

sexta-feira, outubro 12, 2007

Pintado a Jasmim


O poema é o desenho desta letra
inclinada pelo rumor do vento
quando lhe peço abrigo
e vejo nele o espelho do meu corpo
repousando nos teus braços de ontem.

A tinta ainda não acabou de secar.
O cheiro fresco da página vira-se para a página seguinte
e a minha voz ouve-se melhor ao vento
quando conspiramos no silêncio
a próxima letra
e a exactidão do seu desenho.

Agora há mimosas nas árvores
e lá em baixo o rio já não é como era
nem saberia sê-lo.
Esqueci como se bebe a água pela mão
ou como se bebe a mão
do rio.

Eu existia nessa transparência
na flor espiritual e líquida
da tinta
que retoca no papel a sua vida.
Esta letra é o meu nome soletrado por ti,
o meu nome que ainda não está seco
e te olha nas acácias florindo em amarelo
no rigor do inverno.

Qualquer palavra tua me desenha
e assim começa qualquer coisa
que me estava destinada desde sempre.



Rosa Alice Branco in “Flor de Tinta”
Imagem: Pintura de Enrique de Santiago


Canela

quinta-feira, outubro 11, 2007

À procura da Fonte de Tempo

- Bom dia, disse o principezinho.
- Bom dia, disse o comerciante.
Era um comerciante de pílulas aperfeiçoadas que acalmam a sede. Toma-se uma por semana e deixa-se de sentir qualquer necessidade de beber.
- Por que é que vendes isso? disse o principezinho.
- É uma grande economia de tempo, disse o mercador. Os peritos fizeram as contas. Poupam cinquenta e três minutos por semana.
- E o que é que se faz com esses cinquenta e três minutos?
- Faz-se aquilo que se quer…
«Eu, disse para si mesmo o principezinho, se tivesse cinquenta e três minutos para gastar caminharia muito lentamente para uma fonte…»


Antoine de Saint-Exupéry in “O Principezinho”

Canela

quarta-feira, outubro 10, 2007

O tempo que não traz paz


Começo a ser doença obsessiva
ao repetir-me por poemas isto:
as tuas invasões à minha paz.
(Podia até em jeito original
pôr aqui umas notas sobre ti:
cf., vide: textos tal e tal)
Mas é que a minha paz fica toda es-
tragada quando te penso amor.



Ana Luísa Amaral in “Imagens”
Imagem: Pintura de Rodrigo Mota


Canela

terça-feira, outubro 09, 2007

Com o tempo essencial

Ando sem tempo para discursos desconexos e impregnados com a fleuma característica dos prepotentes
Ando sem tempo para sentimentos mesquinhos e ódios que se nutrem com histórias distorcidas de civilizações perdidas.
Ando sem tempo para reuniões onde desfilam vaidades e se sangram os resilientes como nos dias de matança, em pretensos coliseus onde os sádicos assistem com satisfação até ao último estrebuchar das suas vítimas.
Ando sem tempo para conversas paralelas onde se destila veneno que compromete seriamente qualquer função hepática.
Ando sem tempo para rostos fechados pela angústia e frustração.
Mas, também eu estou muito aquém do que deveria ser um ser humano, também eu, ainda, não consigo aceitar tudo o que vou encontrando no caminho. Aceitar tem de ser a palavra-chave. Como um bom taxonomista deveria saber observar, identificar, catalogar, atribuir-lhes uma categoria e passar ao seguinte. Mas não, ainda me deixo mutilar, primeiro a nível organizacional e depois a nível lexical. Sinto-me incapaz de organizar ideias e de as transpor para palavras. Sinto-me incapaz de descrever sentimentos.
Não deixa de ser paradigmático, o facto, de amar tudo quanto faço, de pensar que eles merecem a minha máxima entrega e dedicação e de, simultaneamente, sentir que posso estar a trair quem mais me ama e quem mais amo.
Porque poucas vezes o digo, e não quero que, o possa vir a fazer tarde de mais, deixem-me dizer-vos que vos amo muito. Cada um de vós é para mim muito especial. Aprendi a ver-vos com o coração. A ausência de remetente relaciona-se com a certeza de que, cada um de vós se reconhece nesta partilha de amor.


Canela

terça-feira, outubro 02, 2007

Nuvens de luz

Nos meus maiores momentos de desânimo, a minha mãe costuma dizer-me: filha quando achares que Deus te fechou as portas, olha em volta e observa as janelas.
Nas nesses momentos, a minha cegueira impede-me de encontrar a luz, nem que seja na mais ínfima nesga. Só me apetece dormir, dormir e não acordar, ou acordar para verificar que tudo não passou de um sonho mau.
Mas, Deus conhece todas as minhas limitações e empurra-me sempre para a porta aberta, ou para a nesga de luz. Hoje, não foi diferente. Com os olhos semicerrados para tentar minimizar uma fortíssima dor aguda, recebo uma mensagem que dizia:
Tia Jasmim, sou o P. e nasci hoje (dia 1 de Outubro de 2007), sou lindo, muito lindo. Portei-me muito bem e a minha mamã nem teve tempo de preencher o formulário no hospital, porque eu nasci muito depressa, mas muito de mansinho. A mamã quase não se apercebeu. Sou um rapagão grande, dorminhoco e comilão.
E, eu digo-te meu amor: que hoje fizeste chover luz. Sê bem-vindo meu amor lindo.


Canela

segunda-feira, outubro 01, 2007

Até Breve

Todos conhecemos a finitude da vida, em determinadas alturas mais do que noutras. Mas mesmo assim, a vida não deixa de ser cruel quando nos tira as poucas pessoas magníficas que conhecemos.
Também é certo que tangenciamos a imortalidade quando legamos aos nossos filhos parte do nosso património genético. Parte de nós continuará indefinidamente. Mas, esta certeza não nos alivia a dor, não diminui a saudade, não nos restitui os entes amados.
S., eu sei que nada do que possa dizer te alivia a dor e a angústia que se instalaram no teu peito. Quero, apenas, que saibas que continuarei ao lado da minha excelente amiga. Caminharemos juntas, mesmo que a dor nos dilacere.


Canela

domingo, setembro 30, 2007

«Hai-Kai»

Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio d'asas.

- Como quereis o equilíbrio?


David Mourão-Fereira in “Hai-Kai”

Canela

A Pedido (Take This Waltz)

Para quem, como eu, adora esta música e me pediu para a colocar via “Goear”, uma vez que, o download é mais rápido. Aqui está. Quem gostar de ver o vídeo, e não tiver problemas com a velocidade de transferência de ficheiros, pode continuar a usar o “Youtube”.
As minhas sinceras desculpas pelo atraso.
Deixem-se encantar.


Canela