Em determinados dias socorremo-nos de situações difíceis para os ajudarmos a avançar, para os motivarmos, para lhes demonstrarmos que na maioria das vezes é nas piores situações possíveis que mais aprendemos, e aqui incluí-se também autoconhecimento.
Enfrentar todas as situações com um: “eu vou conseguir” deveria ser se não um lema, um quase lema.
Das muitas estórias que lhes poderia ter contado, escolhi a menos má, só para lhes retirar um sorriso no final.
Contei-lhes que nos deram cerca de 60.000€ para um projecto de investigação com a duração de quatro anos, e no qual só uma estufa de atmosfera controlada (que fazia falta) custava cerca de 30.000€. Contei-lhes que a alternativa era comprar umas “jarras”, a empresas que comercializam material para laboratório, que custavam cerca de 1000€ cada uma.
Contas feitas o dinheiro disponível para quatro anos, mal chegaria para um. Mas, que existem sempre alternativas.
No meu caso, a alternativa foi encaminhar-me para o supermercado mais próximo, comparar caixas de plástico para armazenar alimentos, com um volume determinado e herméticas (o que era absolutamente obrigatório). Cada uma destas caixas custava menos de 5€.
Nesta altura trabalhávamos em conjunto com uma equipa inglesa, mas publicávamos mais! Talvez pela fama que Portugal vai transmitindo, através dos seus governantes, os ingleses começaram a estranhar que nós conseguíssemos trabalhar mais e melhor. E, decidiram ver o que se passava.
No dia em que nos visitaram encontraram um laboratório com pouquíssimo equipamento e com uma (apenas uma) estufa de temperatura controlada cheia de caixas plásticas para armazenar alimentos, com a tampa recoberta com fita isolante (não fossem as caixas não serem absolutamente herméticas). Abertas as caixas puderam finalmente verificar in situ que o nosso microrganismo crescia, de facto, muito mais naquelas condições, do que nas duas estufas de atmosfera controlada que eles tinham no laboratório.
Para eles a opção foi simples: desligaram os gases das estufas de atmosfera controlada que passaram a funcionar, apenas, com estufas de temperatura controlada.
Para nós foi o merecido prémio: ganhamos o projecto europeu a concurso.
É esta férrea força para lutar e a fortíssima corrente-de-amor aos que me rodeiam que, ainda, me mantêm aqui.
Eles sorriram.
Eu tenho a certeza que aprenderam uma estória que se aplica a quase todas as situações de vida.
Canela