Bate à porta nas manhãs frias de Domingo, nas mesmas manhãs em que me é autorizado o prolongar da preguiça, nas minhas manhãs de Domingo de cama e de livros. Entra sorrateira, traz a chave de casa nas mãos, dá-me um beijo de fugida, vai tirando os sapatos, salta para a cama e só depois pergunta:
- Estás a ler?! Como sempre! Posso ir buscar um livro?!
Sorrio, aceno que sim com a cabeça e fico a observar o seu comportamento.
Escolhe, demoradamente, o livro, enquanto vai dizendo:
- Temos duas horas para contar estórias. Leio um bocadinho, mas depois contas-me uma estória.
E, já a saltar, novamente, para a cama, decide inquerir-me:
- Pode ser?!
Volto a sorri-lhe, enquanto ela escolhe o seu lugar no conforto da cama.
- Aqui é bom ler, não é?!
- Eu gosto – respondo-lhe.
- Contas-me uma estória?!
- Não. Vamos fazer um jogo.
- Que jogo?
- Vamos ambas contar uma estória. Tu começas a contar a estória e quando achares que chega, sem a terminares, dizes-me que eu continuo, depois eu passo-te, outra vez, a estória para tu a continuares, e assim sucessivamente. Nenhuma de nós a pode terminar. Concordas?
- Que giro – responde. Nunca tinha contado uma estória assim!
A estória começou. O cenário descrito era triste. Existiam vários medos. Duas crianças abandonadas á sua sorte, cães a latir, fome, frio, dúvidas e saudade.
Ninguém tão pequeno consegue descrever com tanta nitidez uma estória tão triste. Ninguém tão pequeno deveria conseguir descrever com tanta nitidez uma história com contornos tão obscuros.
Virou-me as costas quando as dúvidas a assolaram.
- Gosta de mim? – perguntou
- Gosto muito – respondi, enquanto a abraçava.
- Achas que a minha mãe, ainda, se lembra de mim? – referia-se à mãe biológica.
- Tenho a certeza que te ama muito e que tem muitas saudades de ti.
Era a minha vez de prosseguir a estória. Mudei as cores do cenário. Falei-lhe de todos os corações que batem por ela. De quanto todos a amamos. De quanto os pais adoptivos e os pais biológicos a amam. Expliquei-lhe que os cães latem para comunicarem e o significado de pais adoptivos e pais biológicos.
E, ainda mesmo, antes da estória terminar, saltou, desta vez, para cima de mim e no meio de um abraço muito, muito apertado, perguntou:
- Sabes porquê que te amo tanto?
- Não! – respondi, só para ouvir a resposta.
- Porque me explicas tudo tão bem!
- Bom! Está na hora de voltar para casa. Não quero que os meus pais (pais adoptivos) cheguem e não me vejam! Podemos contar, mais vezes, estórias, assim?!
No Natal também se explicam histórias.
Canela
- Estás a ler?! Como sempre! Posso ir buscar um livro?!
Sorrio, aceno que sim com a cabeça e fico a observar o seu comportamento.
Escolhe, demoradamente, o livro, enquanto vai dizendo:
- Temos duas horas para contar estórias. Leio um bocadinho, mas depois contas-me uma estória.
E, já a saltar, novamente, para a cama, decide inquerir-me:
- Pode ser?!
Volto a sorri-lhe, enquanto ela escolhe o seu lugar no conforto da cama.
- Aqui é bom ler, não é?!
- Eu gosto – respondo-lhe.
- Contas-me uma estória?!
- Não. Vamos fazer um jogo.
- Que jogo?
- Vamos ambas contar uma estória. Tu começas a contar a estória e quando achares que chega, sem a terminares, dizes-me que eu continuo, depois eu passo-te, outra vez, a estória para tu a continuares, e assim sucessivamente. Nenhuma de nós a pode terminar. Concordas?
- Que giro – responde. Nunca tinha contado uma estória assim!
A estória começou. O cenário descrito era triste. Existiam vários medos. Duas crianças abandonadas á sua sorte, cães a latir, fome, frio, dúvidas e saudade.
Ninguém tão pequeno consegue descrever com tanta nitidez uma estória tão triste. Ninguém tão pequeno deveria conseguir descrever com tanta nitidez uma história com contornos tão obscuros.
Virou-me as costas quando as dúvidas a assolaram.
- Gosta de mim? – perguntou
- Gosto muito – respondi, enquanto a abraçava.
- Achas que a minha mãe, ainda, se lembra de mim? – referia-se à mãe biológica.
- Tenho a certeza que te ama muito e que tem muitas saudades de ti.
Era a minha vez de prosseguir a estória. Mudei as cores do cenário. Falei-lhe de todos os corações que batem por ela. De quanto todos a amamos. De quanto os pais adoptivos e os pais biológicos a amam. Expliquei-lhe que os cães latem para comunicarem e o significado de pais adoptivos e pais biológicos.
E, ainda mesmo, antes da estória terminar, saltou, desta vez, para cima de mim e no meio de um abraço muito, muito apertado, perguntou:
- Sabes porquê que te amo tanto?
- Não! – respondi, só para ouvir a resposta.
- Porque me explicas tudo tão bem!
- Bom! Está na hora de voltar para casa. Não quero que os meus pais (pais adoptivos) cheguem e não me vejam! Podemos contar, mais vezes, estórias, assim?!
No Natal também se explicam histórias.
Canela
3 comentários:
Já me ia esquecendo de que as histórias podem ter final feliz... Obrigada por me lembrares!
Piro
A mim e, sobretudo, a meninas que precisam ainda mais de acreditar nisso.
Piro
Todos os seres humanos (e não só!) merecem ter uma história com final feliz, infelizmente, nem sempre é assim.
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