Há uns tempos atrás passeava pelas ruas estreitas de Lisboa, no meio de bazares coloridos, atulhados e com cheiros indecifráveis. Não procurava nada especial, mas gosto de me extasiar com cores, de me atordoar com cheiros e de me perder a olhar com minúcia a confusão. No meio do caos existe sempre alguma coisa que me norteia para uma realidade diferente. Dessa vez foi o azul-turquesa, sou quase sempre resgatada pelo azul-turquesa. Não era um azul puro, só turquesa. Era um azul raiado, com laivos de negro. Eram cinco escaravelhos presos a um fio negro. Lindos. Quatro escaravelhos laterais mais pequenos e um grande frontal.
Se não os comprasse nunca mais os esqueceria. Comprei-os. Não me interessou saber o seu significado, ou o quanto agarrados estavam às superstições egípcias, mas ainda assim, foi-me dito que atraiam o amor. Acreditei, sem questionar a crendice, sabia o quanto me tinha apaixonado pelo colar. Já de saída ainda ouvi, «quando o perder vai encontrar o amor», retive a frase, porque pensei: Nunca o irei perder. Perdi-o, um dia enquanto caminhava na praia. Ainda hoje o consigo descrever minuciosamente, como quando o tinha colocado ao pescoço. Ainda hoje todos os que se relacionam comigo mais de perto, procuram nos bazares egípcios escaravelhos azul-turquesa.
Hoje alguém correu atrás de mim, enquanto gritava, «Espere menina. Caiu-lhe isto da carteira». «Isto», vinha numa mão fechada, e quando me aproximei para ver, era um escaravelho dourado, pequeno, lindo. Sorri, agradeci, mas disse que não era meu, os meus eram azul-turquesa. A pessoa insistiu «É seu. Caiu-lhe da carteira» Não. Obrigada. Pelo telefone relatei a estória à minha mãe. Ela ouviu-me sob um estranho silêncio e no final disse-me: «Era teu, filha. Como nunca te conformas-te com a perda do colar eu comprei-te um escaravelho em ouro e coloquei-to na carteira, mas esqueci-me de te dizer.».
A outra estória (história) guardo em linhas por escrever.
Canela